Exercício melhor não há, para a saúde mental e o refinamento do espírito, do que conviver em paz com as pessoas amigas que têm escolhas políticas diferentes das nossas. Aceitá-las como são, com seus ideais e suas utopias, mesmo que muitos já tenham sido desvendados por nós. Mas não é tarefa fácil, sei bem disso.
Especialmente nestes dias de aguardar pelo segundo turno, a reta final que nos levará à decisão daqueles que comandarão o Estado e o País nos próximos quatro anos, é indispensável termos clareza a respeito dos nossos direitos e deveres, compreendermos a existência da tênue fronteira entre eles, e que não se deve ultrapassá-la.
Já faz bom tempo, tenho me esforçado para conversar sobre política sem exagerar no debate nem brigar pelo que considero indiscutível: a escolha de cada um. Perder amizades é um risco que me nego a correr outra vez pelas diferenças políticas. Mesmo ciente da importância destas escolhas para todas as pessoas envolvidas, acredito que, diante da urna, eu farei a melhor delas nas duas votações. É o que me cabe acreditar.
Depois de tantas eleições testemunhadas, as lembranças enfim me ensinaram boas lições. Em especial, sobre os candidatos pelos quais, por vezes, perdi habitual delicadeza com pessoas próximas. Os mesmos que, tempos depois, me surpreenderam firmando apaixonadas alianças com aqueles que foram seus adversários mais criticados, que lhes atacaram com ofensas e grosserias difíceis de esquecer. E quem saiu perdendo, vejam só, fui eu, que acreditei demais na utopia de que haveria políticos melhores do que todos nós, humanos eleitores.
Descobri, faz algum tempo, que exercício melhor não há, para mantermos as boas amizades e a saúde mental, do que o esforço implementado para convivermos em paz com amigos que têm escolhas políticas diferentes das nossas. É o que fará bem ao refinamento do nosso espírito.
Tarefa fácil, não é. Especialmente nestes dias de aguardar pelo segundo turno.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 21/10/22