Legítima filha desta nação que um dia foi denominada terra brasilis, considero grandiosa riqueza pessoal ter nascido nesta pátria, lugar feito com gente que veio de toda parte. Alegra-me sobremaneira integrar esse inigualável laboratório étnico e cultural, ser um de seus incontáveis frutos.
O histórico familiar, que considero emocionante, me faz imaginar como teria sido a vida de cada um dos meus ancestrais quando aqui chegaram, o que sentiram nestas novas e desconhecidas terras. Gostaria de dizer-lhes da felicidade que sinto por me permitirem ser brasileira, agradecer-lhes pelas escolhas que fizeram, pela extraordinária parceria etno-cultural que carrego vida afora.
Os avós maternos vieram do Norte da Itália, em busca de uma vida melhor; queriam viver em um lugar que lhes acolhesse sem guerras, onde pudessem trabalhar e construir família em paz. Os paternos eram de nacionalidades distintas: ela veio da França, acompanhando seus pais, que aqui desembarcaram para trabalho temporário no sul do Estado; quando retornaram, a filha já era adulta, tinha se casado e ficou. Ele, o avô, nascido em solo brasileiro, contava com a contribuição de índios, de africanos e de portugueses em sua ampla descendência.
Eis que aqui estou eu, uma brasileira da gema. Cria dessa gente que veio de longe, que aqui encontrou o Sol para dar brilho as suas vidas, que não teve medo do trabalho exaustivo. Que encontrou nos primeiros habitantes destas terras, nos filhos de escravos libertos e de descobridores, o amor que lhes preencheu as vidas.
Vez por outra, porém, em vez de me sentir uma de suas filhas, sinto-me mãe legítima do Brasil. Mexe comigo qualquer comentário pejorativo feito por gente de outros pagos, não permito que falem mal destas terras abençoadas por Deus e bonitas por natureza. Porque o Brasil é meu lugar no mundo, de onde nunca pensei partir.
Para sempre, será a dona do meu encantamento, essa pátria de samba e de carnavais, de florestas e cachoeiras esplendorosas, de futebol e sorrisos.
Legítima brasileira que sou, considero grandiosa riqueza pessoal essa minha nacionalidade. Sou feliz por ter nascido nesta pátria ensolarada, feita com gente vinda de toda parte, agricultores mundiais da esperança e da alegria.
Alegra-me integrar esse inigualável laboratório étnico e cultural, ser um dos incontáveis frutos desse meu Brasil brasileiro. E de conhecer o extraordinário prazer de um bom prato de feijão com arroz.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 03/9/21