Entre as lições mais importantes que o professor tempo ministrou a essa eterna aprendiz, está a beleza do gesto de ouvir as pessoas. Se o fizermos com a devida atenção, tornar-se-á atitude das mais saudáveis, causando incrível bem-estar tanto a quem fala quanto ao ouvinte.
Somos seres que aprendem uns com os outros, é verdade indiscutível. Sempre que nos calamos e atentamos para a fala de alguém, nos defrontamos com algo que tinha passado desapercebido até aquele momento. E depois de tanto tempo sem alimentarmos interesse pelo tal assunto, eis que descobrimo-nos enriquecidos sobre o tema, que, nesta condição, passa a cutucar nosso interesse adormecido.
Em certos momentos de quietude quase desatenta, quando parece que nada de novo se apresentará pela voz de outros, chegam inesperados contrapontos às ideias sobre as quais estávamos convictos. Provocativos, mostram-se perfeitos para colocarmos algumas certezas cristalizadas no modo “atualizar”.
De repente, tesouros teóricos que guardávamos a sete-chaves, no baú dos indestrutíveis, nos causam certo incômodo silencioso, forçando reconsiderações de conceitos, gerando surpreendente aprimoramento interior.
Contudo, os benefícios provocados pelos nossos silêncios casuais ultrapassam fronteiras de diversos pensamentos, se atravessam em caminhos culturais e dialéticos.
O melhor de tudo, o que nos atinge o coração feito flecha certeira, é o afeto que passamos a merecer e receber daqueles pelos quais nos mantivemos calados, respeitosa e atenciosamente, permitindo-lhes serem ouvidos como queriam e precisavam. Por termos compreendido que há momentos em que nada deve ser dito; o que importa é saber ouvir.
E foi somente depois de descobrir a importância de silenciar e parar para ouvir outra pessoa que me desvencilhei de alguns incômodos interiores. Como o sentimento de culpa constante que carregam as mães trabalhadoras, por deixarem seus filhos, ainda crianças, durante muitas horas sem a devida atenção materna.
Foi ouvindo com atenção diversas outras mães, mais jovens e mais velhas, de primeira ou de diversas viagens, que libertei meu coração materno da culpa pela ausência que o trabalho me exigia, motivo da terceirização dos cuidados. Quando a pequena filha pedia a atenção dessa mãe que por algumas horas se ausentara, eu largava tudo e dedicava-lhe toda a atenção do mundo. Olhares e ouvidos exclusivamente para o que ela me mostrava e me dizia, o que durava alguns minutos apenas. Logo ela se mostrava satisfeita e voltava aos seus afazeres infantis, feliz, carregando no coração o atencioso silêncio materno.
Entre as lições mais importantes que o professor tempo ministrou a essa eterna aprendiz, está a beleza do gesto de ouvir as pessoas. Se o fizermos com a devida atenção, tornar-se-á atitude das mais saudáveis, causando incrível bem-estar tanto a quem fala quanto ao ouvinte.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 18/8/23