Os Bons Problemas

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Verdade seja dita, somos econômicos em elogios e esbanjadores nos queixumes. Em nossas lembranças, não raramente, em vez de priorizarmos a alegria vivida pela simples presença de pessoas queridas, focamos nas dificuldades e no estresse vividos naqueles dados momentos. Sorte que estamos sempre aprendendo com o professor tempo, o melhor de todos os mestres. E sendo sua atenta aprendiz, fiz extraordinárias descobertas.

A primeira vez que senti a falta de um problema foi alguns anos atrás, em dezembro, quando comecei a fazer minha tradicional lista de presentes e organizar o cardápio. A sensação se repetiu na véspera do Ano-Novo, depois nos dias do Trabalho e das Mães, e em outras datas festivas. Foi quando compreendi que diversas preocupações que eu considerava como problemas eram vivências experimentadas por toda gente naquela fase em que eu estava. Na verdade, faziam parte da minha felicidade, mas eu carecia de tempo para entender.

Natal e Ano-Novo chegando, provas do último bimestre para corrigir, contas para pagar, ceias de Natal e de Ano-Novo para organizar. E muitos presentes para comprar com o décimo terceiro, do qual eu destinaria boa parte para gastos extras nas férias. Utilizando a matemática como aliada para resolver problemas reais, eu listava os nomes dos presenteados e distribuía ao lado de cada um o valor monetário a ser gasto e os presentes cabíveis naquele limite. Começava pelos avós e os pais do meu marido, passava para minha Mãe, a irmã adotiva e a tia que moravam com ela, seguidos dos nossos amigos secretos da família e do trabalho. Eu fazia muitas pesquisas no comércio, simulando os devidos cálculos, que eram refeitos a cada compra, até que o problema estivesse resolvido.

Para o Ano-Novo, preparávamos uma ceia, para a qual eram convidadas as mesmas pessoas do Natal, mais uma tia, algumas amigas da minha mãe que passariam sozinhas. E outras pessoas da nossa estima. Eu adorava organizar o cardápio, preparar os doces, enfeitar a casa. Mas gastar mais do que tinha sido planejado era realmente um problema a ser resolvido naqueles dias de vida sendo construída e filha na escola, de pagar casa e carro. E logo viria o primeiro de maio, aniversário da minha Mãe; o Dia das Mães, com a sogra e a sogra dela. Mais presentes para comprar, problemas de tempo e de dinheiro para resolver.

Eis que chegou um dezembro sem os problemas de antes, o que se repetiu em outras datas festivas do ano. Foi quando compreendi que aquelas preocupações, na verdade, eram vivências que faziam parte da minha felicidade. E criei o termo adequado para a saudade que ficou: eram “os bons problemas”.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 13/5/22

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