A norte-americana Louise Hay (1926-2017) foi uma das pioneiras no tema autoajuda. Foi ela que escreveu, décadas atrás, sobre sermos os verdadeiros responsáveis pelas doenças que adquirimos. E chamou esse fenômeno de somatização – conversão de experiências concretas ou estados mentais persistentes em sintomas orgânicos.
Traduzindo em situações do cotidiano, pode ser a forte dor de estômago pouco antes do jovem começar a responder prova de concurso com mais de duzentos candidatos por vaga; ou a enorme espinha que apareceu na ponta do nariz da bailarina justamente no dia da sua primeira apresentação. Talvez o aumento inesperado de glicose no sangue da esposa, em parceria com o intenso incômodo nos rins do marido, na véspera da viagem tão sonhada pelo casal.
Nos três casos, de acordo com diversas teorias do comportamento, tanto as dores quanto a espinha e a alteração da taxa de glicose podem ter sido provocadas única e exclusivamente pelo estado emocional daquelas pessoas. No candidato, pelo medo da reprovação; na bailarina, pela não aceitação de si mesma; na elevação da glicose da esposa, pela dificuldade em aceitar a alegria; e no incômodo nos rins, por sentir-se irritado com pessoa próxima.
São as doenças somatizadas, que contam com o estresse, o nervosismo, a agressividade e a tristeza como grandes colaboradores. E o maior de todos os vilões dessa história, que é o rancor, chamado de “estado de não-perdão” por Louise.
Sobre esse polêmico assunto, ela explica que guardar para si, por muito tempo, o que deveria ter sido dito, pode causar artrite; a rejeição e o medo dão diarreia; sentimento de culpa tira o sono; mania de perfeição resulta em enxaqueca. E garante: todos os males que atingem nosso corpo, abalando a saúde, vêm do fato de não termos perdoado alguém. Então, sempre que estivermos com algum sintoma, devemos refletir sobre as nossas relações afetivas até descobrirmos quem precisamos perdoar.
Se não nos libertarmos do rancor, se não houver perdão, restarão tristeza, mágoa, sentimento de não-perdão. E o caminho estará livre para as doenças. E Louise, acreditando que perdoar faz bem à saúde, criou uma lista de doenças e suas possíveis causas emocionais, muito interessante até para quem não crê totalmente nessa teoria.
Dor de cabeça, falta de valorização de si mesmo, autocrítica; gastrite, sensação de condenação, incerteza profunda; pressão baixa, falta de afeto na infância, derrotismo; hepatite, resistência às mudanças; prisão de ventre, medo de não ter dinheiro o suficiente. Entre outras.
Prevenção de males orgânicos, assegura a escritora, começa dando adeus aos ressentimentos, esquecendo velhas mágoas. Pois o coração leve, somado à consciência tranquila e à ausência do “estado de não-perdão”, tem como resultado uma vida saudável.
Perdoar é, mesmo, o verbo da boa saúde – física e mental.
Cristina André
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Publicado em 17/3/23