Estamos num momento de reflexão sobre o significado do trabalho, considerando o primeiro de maio (confira o Editorial). Neste contexto, destaco a minha experiência de ingresso no mercado de trabalho e seus desdobramentos, promovendo um mergulho no tema.
Aos 14 anos de idade, comecei a trabalhar como auxiliar temporário na Casa Masson (importante empresa centenária do comércio na época), onde meu pai era gerente do Setor de Óptica em uma das filiais.
Como eu era aluno estudioso, passava de ano por média e no início de dezembro já estava de férias, era assim que funcionavam as escolas nos anos 70. Então, meu pai perguntou se eu gostaria de trabalhar na loja como ajudante durante o mês de dezembro, período de grande movimento devido ao Natal. Aceitei empolgado. Era um faz-tudo: organizava mercadorias, fazia pacotes, arquivava documentos, realizava compras para os colegas e comprava os lanches (baurus e refrigerantes) para a equipe na padaria próxima. Devido ao intenso movimento, fazíamos horas-extras, com direito a lanches e um plus no salário.
Dos 14 aos 17 anos, eu trabalhei nos meses de dezembro como um faz-tudo, na Casa Masson, com carteira assinada. Neste período, aprendi muitas coisas relevantes para a vida, como trabalhar em equipe, ter responsabilidade, valorizar o trabalho e o dinheiro, respeitar as pessoas e suas diferenças, estar sempre aberto para aprender, ter empatia e fazer pacotes de presente (até hoje, sou um Pelé quando se trata de fazer pacotes).
Aos 18 anos, fui emancipado para abrir a minha empresa, o Curso de Inglês Know-How, cuja história está registrada no meu livro “Guaíba-Outra Margem”.
O trabalho está diretamente ligado à dignidade; algumas funções podem ser desgastantes ou enfadonhas, mas nos mantêm ativos e inseridos num processo natural de evolução. Sempre haverá uma oportunidade de ascender e encontrar atividade mais afinada.
O mandrião (palavra bonita para vagabundo) é um infeliz cativo, além de ser estorvo à família e à sociedade. Passa a vida acreditando que se deu bem, até sentir o vazio penoso da inutilidade.
O trabalho está diretamente ligado à dignidade.
Bolsa Família
Entendo que não se pode admitir que pessoas passem fome, principalmente em uma época com tantos recursos e tecnologia tão avançada. Portanto, auxílios como o Bolsa Família são importantes. Porém, não concordo com o processo populista e nocivo deste auxílio no Brasil. O erro começa no arrebatamento da divulgação do número de beneficiados quando deveria ser o contrário: a estatística dos que conseguiram deixar de receber o benefício é que deveria ser exaltada.
Ajudar uma pessoa em vulnerabilidade social é ato nobre, mas torná-la dependente vitalícia da ajuda é perverso. Isso está acontecendo no Brasil, escamoteado pela hipocrisia de quem defende a esmola para os pobres e vive na boa de mesada ou do esforço de quem trabalha de verdade.
Roubam até dos aposentados
A corrupção se multiplica nos governos do Lula, destacando escândalos como o Mensalão e o Petrolão (com réus confessos detalhando os esquemas corruptivos); denominações no aumentativo devido ao tamanho dos desvios de dinheiro público.
Agora, operação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) expôs um esquema bilionário de fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS. Segundo as investigações, associações e sindicatos descontaram mensalidades indevidas diretamente dos benefícios, muitas vezes sem qualquer autorização dos segurados. Isso começou lá atrás, mas disparou nos anos de 2023 e 2024, mesmo com os alertas apontando as irregularidades.
Estima-se que os prejuízos cheguem a R$ 6,3 bilhões, com fraudes entre 2019 e 2024. A promessa do Governo Federal é de que os valores descontados de forma indevida sejam devolvidos integralmente, mas os detalhes operacionais ainda não foram divulgados. Enquanto isso, até o dia 1º de maio, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que havia sido alertado sobre as irregularidades e não cortou os descontos, segue cheio da razão no cargo.
E tem gente que passa pano para esquema que tira dinheiro de aposentados. É de cair os butiás dos bolsos.
Leandro André
Publicado em 2/5/25
