O Trabalho de Cada Um

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Entre toda gente que trabalha, há divergências na referência à lida diária. No geral, o pessoal que vai à luta está distribuído em três grupos: os que não gostam daquilo que fazem, e seguem em frente pelo aguardo da aposentadoria; os indiferentes, que sequer avaliam o serviço prestado, apenas cumprem horários, repetindo o de sempre, para receberem pagamento; por fim, o terceiro grupo, daqueles que já aprenderam a apreciar as tarefas diárias além da necessidade de sobrevivência, como parte importante da própria felicidade.

Os integrantes do grupo de quem detesta o seu trabalho vivem sonhando acordados com o dia feliz de ficarem ricos fazendo algo diferente, mesmo sem terem ideia do que seria. Talvez acertando na loteria ou recebendo alguma herança, desde que seja sem trabalhar. Carregam uma insatisfação constante, notada por todos da sua convivência, pois tem como assunto principal a procura de um emprego de afazeres sem compromisso, de poucas horas e muitos ganhos. De preferência, seguido por uma aposentadoria farta e precoce. Sonham com a rotina de fiscalizar a natureza, não gostam de sacrifícios, como consideram que seja o trabalho.

Os indiferentes pertencem a outra turma, agem e pensam de forma diferente. Não gostam nem desgostam dos seus afazeres; na verdade, têm pouco interesse na avaliação dos resultados e na contribuição coletiva. Seguem realizando o pertinente a sua ocupação, sempre no limite que dê para o gasto; e para o pagamento dos seus gastos pessoais. E assim seguem em frente, trabalhando e folgando, esperando melhorias no salário; se queixando um pouco, sentindo-se incompreendidos. Habitando um universo de neutralidades, fazendo o que é preciso ser feito e pronto. Nada de satisfação, entusiasmo, contribuição; apenas cargas horárias e contracheques. Trabalho é trabalho, nada mais nada menos.

No terceiro time, estão os trabalhadores que se sentem úteis ao mundo e a si mesmos pelos quefazeres de cada dia. Reivindicam melhorias financeiras e férias, mas têm consciência de que suas realizações vão além de questões fazendárias, pois são parte dos bons momentos da vida. Querem permanecer na ativa, sentindo-se úteis, fazendo a diferença e cooperando com a sociedade. Consideram a lida uma boa parceira da diversão, gostam de trabalhar.

Mas, enquanto os que têm emprego vão se encaixando em uma das três turmas, existe um pelotão formado por gente que procura colocação em qualquer frente de trabalho, sem se importar se é do seu agrado ou se o salário é bom. Pessoas que precisam ser incluídas no universo produtivo não apenas pela sobrevivência material, mas para fazerem parte da engrenagem que move o mundo, para se sentirem úteis, possibilitando o resgate da autoestima e da dignidade. Porque a realização do trabalho se faz importante conexão com a própria existência.

 

Cristina André

Publicado em 29/4/22

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