O Segredo dos Milagres

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Eu acredito em milagres. Mesmo que algumas pessoas afirmem não passarem de ilusões, de ações científicas mal interpretadas, de coincidências ou sonhos, minha crença nestes fenômenos segue firme e forte. Cada vez mais.

Já faz bom tempo, conversava com uma amiga, e o que ela me contou foi surpreendente. Tinha passado por um período de muitas dificuldades financeiras, com os filhos pequenos, o marido sem trabalho, dívidas tirando o sono do casal. E quando não havia mais a quem recorrer, sem perder a fé, ela decidiu mudar suas orações de todos os dias. Em vez de pedir solução apenas para os seus problemas, começou a agradecer pela possibilidade de trabalho e renda para todas as famílias naquela mesma situação.

Com os olhos brilhando e arrepiada, confidenciou que, dias depois da tal atitude, bateram na porta da sua casa para entregar um envelope com dinheiro. Era o pagamento de uma dívida que tinham contraído com seu marido, ele nem lembrava, pela prestação de um serviço realizado anos antes. O devedor tinha conseguido emprego e, no primeiro pagamento, fez questão de acertar. Na semana seguinte, foi seu marido que repetiu o gesto. E logo chegou o emprego que ele esperava.

Na contrapartida, contei-lhe sobre o cofre que tínhamos em casa, onde o pai, comerciante, guardava o dinheiro ganho com as vendas do armazém. E outros objetos de valor, documentos importantes, certidões, recibos e cadernos com anotações de quem comprava fiado.

De forma repentina e triste, perdemos o pai. E os compromissos dele passaram para a responsabilidade da mãe, que não conseguia abrir o cofre, pois tinha a chave mas não conhecia o segredo, criado há pouco tempo por ele, que não havia anotado.

Depois de alguns dias com incontáveis tentativas frustradas de abrir o cofre para acessar documentos da família, a mãe optou por seguir a própria fé. Sentou em frente ao inacessível armário e começou a rezar. Pedindo ao nosso pai que lhe ajudasse naquela tarefa, para o bem da família que tanto amor dedicara a ele. De repente, ela se levantou e, na primeira tentativa, acertou o segredo do cofre, revelado como por encanto. E nossas vidas seguiram em frente, feito milagres.

Eis que, poucos dias atrás, soube que uma professora que conheço há muitos anos e que nunca acreditara em Deus teve sua condição de ateia convicta derrubada depois de sobreviver a uma longa e dolorosa internação hospitalar em consequência da Covid.

No isolamento que a infecção lhe impôs, essa colega, durante as semanas em que ficou na UTI para tratamento, começou a sentir profunda tristeza, certamente causada pela solidão. As visitas diárias das duas enfermeiras, às vezes três, para os procedimentos necessários, era sempre o melhor de cada dia. A terceira atendente não tocava nela, apenas lhe consolava, dando-lhe força interior para prosseguir lutando.

Eis que chegou o dia feliz da alta hospitalar da professora, e ela quis se despedir da tal terceira atendente, a mulher que tinha sido a sua salvação psicológica. Mas ninguém no hospital sabia de quem se tratava, aquele nome não existia na lista de funcionárias. Tampouco aparecia uma terceira pessoa nos vídeos gravados pelas câmeras de monitoramento nas visitas das outras duas enfermeiras. E a professora, que não acreditava em Deus, aprendeu a rezar.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 19/11/21

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