O Nosso Tema de Casa

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Das quatro operações matemáticas que aprendemos nos primeiros anos da escola – adição, subtração, multiplicação e divisão, tínhamos maior simpatia pela adição e a multiplicação. Provavelmente, pela associação que naturalmente até hoje é feita entre os verbos somar e multiplicar com ganhos e melhorias.

As outras duas, subtração e divisão, ao contrário, pareciam entristecer um pouco os nossos temas de casa. E isso se dava, eu imagino, porque os verbos diminuir e dividir, especialmente na infância, flertavam com a ideia de perdas e danos.

Naqueles tempos infantis, nos divertíamos resolvendo problemas escolares que perguntavam sobre a quantidade de laranjas que havia no cesto sobre a mesa da cozinha, sabendo que, às três que lá estavam, juntaram-se quatro que a mãe colheu no pomar e uma dúzia que a tia trouxera do sítio.

Até mesmo quando a situação se complicava, como no caso dos oito pés de peras, que tinham 15 frutas cada um, e precisávamos responder quantas peras havia ao todo.

Contudo, quando o enunciado se referia às duas laranjas que o irmão mais velho tinha saboreado no meio da tarde; e às outras cinco que a vó transformara em suco para fazer um pudim de sobremesa, e precisávamos saber quantas laranjas restavam das duas dezenas e meia que estavam na fruteira, não era tão agradável de responder.

Se o caso proposto pela professora fosse dividir uma caixa com 15 bombons entre os quatro irmãos, aí complicava um pouco mais, a conta não fechava; e era certo que perderíamos em quantidade de bombons.

Dos tempos em que decorávamos poesias para recitá-las em sala de aula, e nas janelas das casas sempre havia feijão brotando no algodão molhado; de quando copiávamos mapas com papel manteiga e tínhamos aulas de religião, ficou o gosto diferenciado pelas quatro operações matemáticas. Somar e multiplicar continuou sendo mais fácil e divertido do que diminuir e dividir.

Até hoje, que já somos bem crescidos e resolvemos diversos problemas na prática, a dificuldade continua sendo o antigo receio de diminuir e dividir. E apesar de termos bem aprendido adição, subtração, multiplicação e divisão na infância, por vezes carecemos de uma outra matemática, a da alma, que funciona diferente.

O nosso tema de casa, agora, constitui-se em exercitar o desprendimento e a solidariedade, a bondade e a esperança, o amor universalizado. Para aprendermos, o quanto antes, que a divisão da alegria, a distribuição de palavras gentis e de boas ações sempre resultam em ganhos. E que jamais seremos subtraídos em felicidade e paz de espírito enquanto estivermos distribuindo ondas de energia positiva ao mundo, doando um pouco da nossa tolerância, do amor pela vida, do trabalho feito com entusiasmo, do calor humano que aquece a todos.

Das quatro operações matemáticas que aprendemos nos primeiros anos de escola – adição, subtração, multiplicação e divisão, com as quais aprendemos a resolver problemas com frutas e bombons, agora devemos entender que, em se tratando de somar para nossas vidas, o verbo a ser conjugado é dividir.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 21/4/23

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