Dias há em que fico pensando na minha cidade, em como era tempos atrás. Emoção à flor-da-pele, o coração se enche de uma saudade que quase não cabe em mim, mas gosto que seja assim.
O que sinto nas vezes de reverenciar este que é o meu lugar no mundo não se refere a casas e lojas antigas, nem a escolas tradicionais, a praias ou crianças brincando nas calçadas. Porque já entendi que a vida de uma cidade vai acontecendo com história e renovação, assim como as nossas.
A saudade que me invade é de gente, de guaibenses, os nascidos aqui e os de coração, como eu. De professoras e professores que deram seus nomes a diversas escolas, como as irmãs Laviaguerre, Carmen Alice e Amélia Consuelo, com quem aprendi muito além das aulas de Educação Física. Do casal Otero Paiva e Anita Guimarães, que me paravam na calçada, quando eu voltava do Gomes Jardim, estudante da terceira série primária, para perguntarem como estava a minha família, mandarem abraços para todos.
Lembro-me com carinho do José Carlos Jardim e da Dona Zilinha (Zilá Paiva), pais de uma colega. Ele costumava nos levar para o Ginásio Cônego Scherer em uma caminhonete rural; lá atrás, na parte aberta, vento batendo no rosto e uma faceirice infantil que já não consigo explicar. E do nosso professor de Ciências, David Riegel Neto, que morava em um bonito casarão da Sete de Setembro, quase em frente à casa do Seu Arlindo (Stringhini) e da sua esposa, Dona Nilda.
Na Bento Gonçalves, onde morávamos, também viviam seu Norberto Linck e a Dona Lélia, com seus muitos filhos, nossos amigos; e três senhoras muito queridas: Dona Tulheta, Dona Chiquinha e a dona Eugênia Scalco, avó de uma de minhas amigas. E duas casas depois da nossa, o médico Ruy Coelho Gonçalves e a Dona Maura, sua querida esposa, amiga de infância da minha Mãe.
Perto dali, na esquina em frente ao antigo prédio do INSS, ficava a casa da Dona Izaura (Paiva), mãe da minha professora de Geografia, a Liana Duarte, e avó de outra colega e amiga. E os donos da padaria em que todos comprávamos, o Ciro Remédio e a Dona Ceres.
Dias há em que fico pensando na minha cidade, em como era tempos atrás. Emoção à flor-da-pele, o coração se enche de uma saudade que quase não cabe em mim, mas que gosto de sentir. Porque já entendi que a vida de uma cidade vai acontecendo com história e renovação, assim como as nossas.
A criança que fui, num piscar de olhos, se tornou mãe; de repente, me vi passeando pelas movimentadas ruas, mãos dadas com a neta. Feliz, por ter convivido com tanta gente que dá nome a escolas, ginásios de esportes e ruas, neste que, definitivamente, é o meu lugar no mundo.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 15/10/21