O Besouro do Povo

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A minha geração, salvo raras exceções, começou a sua carreira de motorista dirigindo um Fusca, esse ícone da história automotiva mundial. Isso porque, ao contrário do que muita gente pensa, o Fusca não é brasileiro e também não foi o primeiro a ser fabricado por aqui. Antes dele, veio a sua irmã gêmea bi vitelina: a Kombi. Tudo bem que o Fusca caiu nas graças do povo e tornou-se um dos primórdios da nossa indústria automobilística – tanto que tem até um dia dedicado a ele por aqui, que é o 20 de janeiro. Mas sim, tal qual a mana Kombi, a Volkswagen começou a fabricar o velho besouro na Alemanha. Já sei: você tem menos de 20 anos e ficou pensando no que é primórdio e nem imagina o que é bi vitelina… o Google te explica.

Se 20 de janeiro é o Dia Nacional dedicado ao Fusca, o 22 de junho é o Dia Mundial dele. Ou seja: foi comemorado na semana passada. E por isso estou escrevendo sobre isso agora. Volskwagen na Alemanha. Beetle nos EUA. Sedan no México. Carocha, em Portugal. Fusca no Brasil. Não importa. Ele é inconfundível. Na verdade, há registros de que a Volkswagen (expressão que num alemão grosseiro pode ser traduzido por algo como ‘carro do povo’) teria desenvolvido esse automóvel como um veículo popular a partir de um pedido pessoal do führer nazista Adolf Hitler durante a segunda guerra mundial (1939-1945). O carro foi desenhado por – vejam a ironia do destino – Ferdinand Porsche (que também dá nome à marca de automóveis esportivos e luxuosos que conhecemos hoje mas com uma sensível e absurda diferença de preços entre a marca do seu sobrenome e o velho Fusca).

No último ano da Segunda Guerra Mundial, o governo britânico tomou posse da planta de Wolfsburg, que havia sido transformada em uma fábrica majoritariamente militar pelos nazistas durante o conflito. E com isso, começou um processo para revertê-la ao uso civil. Até então, apenas 630 unidades do Fusca foram construídas por lá, todas voltadas ao uso dos ‘aliados’ (grupo de países que lutaram ao lado da Alemanha). Terminada a guerra, o veículo começou a ser destinado aos consumidores civis, embora que com um volume de produção ainda muito baixo: não passava de mil unidades ao mês. Dois anos depois, quando o modelo já começava a ser vendido em outros países, a Volkswagen passou a expandir significativamente a fabricação do carro, já aproveitando o crescimento da popularidade do modelo.

No Brasil, a história do Fusca começa em 1951, quando as primeiras unidades desembarcaram por aqui. A produção nacional só iniciou oito anos depois, em 1959 e continuou até 1986, contabilizando 3,3 milhões deles fabricados e comercializados, com visual e acessórios de pouca diferença durante todos esses anos, mas motores que iam desde o 1.200cm³ até o ‘potente’ Fuscão 1.600. Depois, teve aquela história do presidente Itamar Franco em 1993, que teria ‘exigido’ a retomada de produção do Fusca. Com uma concorrência muito mais moderna e diversificada (especialmente após a abertura do mercado de importações no Brasil, iniciada por Fernando Collor no começo dos anos 1990), a sobrevida do ícone foi curta: apenas três anos, sendo encerrada permanentemente em 1996.

Experimente visitar uma das tantas exposições de automóveis antigos que existem por aí. Certamente irá encontrar lindos exemplares dos mais diversos anos de fabricação, cuidadosamente mantidos por seus apaixonados donos. Conselho: nunca pergunte quanto ele vale. Eles podem ter um preço, mas o valor para quem o mantém é incalculável…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 01/7/22

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