Ah, o amor! Encontrando o coração certo, fará dele sua morada, tudo transformando. E nada mais acontecerá como antes. Até o tempo, obediente seguidor de calendários e relógios futuristas, mostrar-se-á desmedido e revolucionário, conquistando cidadania em um país que até então não conhecia.
Vestida de ritmos e floreios, eis que a vida começará a se mover de forma irreconhecível – o que parecia apenas um dia depois do outro terá ares de extraordinária inquietação.
Envolto em seus mistérios e suas intransigências, capaz de agigantar breves momentos a dois, o amor consegue criar universos paralelos de romantismo e suavidade, pouco ligando para os pequenos mundos que se alimentam de violência e arrogância.
Mesmo correndo riscos de se perder em chamados inconsistentes, quando é verdadeiro, o amor segue forte e corajoso, reconhecendo ilusões passageiras, desprezando riquezas materiais, liberto de preconceitos e desconectado de tudo o que não seja em benefício de si mesmo, do seu caráter único de existir com profundidade.
Ágil arqueiro de flechas que atravessam desavisados seres, esse sentimento, que assusta e surpreende de início, aos poucos vai se acomodando na rotina do bem-querer. As alegrias precisam ser compartilhadas; cada doce, gentilmente repartido e saboreado; belas paisagens devem ser mostradas em sonhos e mensagens.
Nos abraços corriqueiros de todo dia, eis que o amor finalmente encontra potente combustível para seguir em frente, firme e forte, como muralha protegendo duas vidas. Aqueles que o vivenciam se fazem audazes e comprometidos, rumam lado a lado na pretensão de serem sempre felizes.
Mas também se desmancham em lágrimas e versos escritos, os que amam de verdade; se desculpam e se arrependem feito ondas quebrando na areia. Escolhem músicas e têm lugares especiais, brindam vida afora todas as idas e vindas, convivem com vontades passageiras de serem sós, quase desfalecem de saudades com ausências prolongadas.
Se permanece nos corações por longo tempo, sobrevivente de trilhas difíceis como incansável companheiro, o amor jamais se apagará. Sendo verdadeiro, a tudo sobreviverá. Entre mudanças de comportamento, adaptando-se aos ritos da existência, seguirá como libertário herói, propagandeando as sinceras e fiéis parcerias.
Ah, o amor! Quando encontra o coração certo, faz dele sua morada, tudo transforma. E a vida, então, haja o que houver, se vestirá de ritmos e floreios.
Cristina André
Publicado em 7/6/24