Lá pela metade dos anos 80 eu e um grande amigo estávamos numa pizzaria na rua Vasco da Gama em Porto Alegre, depois de um show da banda “Cheiro de Vida”, no teatro da OSPA, que ficava ali na Independência. De tudo isso, hoje, só resta a Independência. De repente, na pizzaria, olhamos para a mesa ao lado e ali estava Bebeto Alves, conversando e rindo, sentado em meio a um grupo de pessoas. Naquela época ele já era um dos grandes expoentes, não só da chamada música popular gaúcha, mas também do rock e da MPB.
Natural de Uruguaiana – mas um ‘cidadão porto-alegrense’ desde 1970 – Bebeto fez parte do chamado “Paralelo 30”, um álbum coletivo idealizado pelo jornalista Juarez Fonseca, irmão do Bayard; onde Bebeto participou ao lado de Raul Elwanger, Claudio Vera Cruz, Carlinhos Hartlieb e Nando D’Ávila, os dois últimos, já falecidos. Aliás, fui colega de trabalho de Lauro D’Ávila, irmão do Nando.
Muito tempo depois, reencontrei Bebeto Alves em duas outras oportunidades: uma delas, num dezembro de dois mil e alguma coisa, num show na praça Gastão Leão aqui em Guaíba, com o grupo “Juntos”, do qual participavam ainda Gelson Oliveira, Totonho Villeroy e Nelson Coelho de Castro; e pela última vez, num almoço na fazenda do Renato Borghetti na Barra do Ribeiro, uma semana antes da pandemia paralisar o mundo.
No começo dessa semana, aos 68 anos, Bebeto Alves partiu. Lutava há alguns anos contra um câncer de fígado, para o qual fez transplante. Durante a pandemia teve dois AVC’s; e agora por fim, o tumor estava no pulmão, agravado por uma embolia. O título dessa coluna é um dos seus grandes sucessos. Assim como “De Um Bando”; “Depois da Chuva”, “Mais uma Canção”; “Sinal dos Tempos”, essa gravada por Belchior e “Uma Louca Tempestade”, gravada por Ana Carolina. Além, é claro, de “Pegadas”. Pegadas essas que jamais serão apagadas.
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E já que o assunto – infelizmente – é de perdas no mundo artístico tupiniquim, no momento em que escrevo essas mal traçadas linhas recebo a notícia da partida de Rolando Boldrin, músico, compositor e eterno “Senhor Brasil” da TV Cultura, um ícone dos programas-raiz do caboclismo brasileiro; e de Gal Costa, a baiana dona de uma das vozes agudas mais afinadas que ecoou de norte a sul desse país nos últimos 70 anos.
O mundo artístico, é lógico, vai se renovando e a cada ciclo surgem grandes talentos. Mas quando os consagrados vão se despedindo, dá uma dor enjoada na alma…
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Sem muitas surpresas, Tite anunciou na última segunda-feira os nomes dos 26 que poderão trazer o hexa. Desses, só três jogam no Brasil. E isso diz muito sobre o atual momento do futebol brasileiro mas que, vamos combinar, já foi pior.
O chavão é inegável: futebol é momento. Talvez seja, realmente, os melhores que dispomos para a montagem de um time capaz de conquistar o mundo pela sexta vez. Não acredito que algum protagonista tenha se sentido excluído da lista do Tite. A polêmica – sim, sempre tem – ficou por conta de Daniel Alves. Para muitos, um jogador já de baixa performance e com a idade acima da média para os padrões atuais. Mas o técnico entende que o diabo não é diabo por ser malvado; e sim por ser velho. Dani Alves talvez seja a voz que um vestiário – mesmo que experiente – necessite na hora que a água bate na… cintura. Espera-se ainda que ele possa ser para Neymar daqui há alguns dias o que Dunga foi para Romário em 94.
Daniel Andriotti
Publicado em 11/11/11