Nó na Língua

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Quando um bebê começa a falar, a pobre criança nem imagina o que vem pela frente em se tratando de linguagem. Isso porque o nosso idioma é um dos mais difíceis do mundo. Mas é na hora de ir para a escola – quando ela começar a escrever – que sobe a régua do sofrimento…

O mundo todo sabe que o português utilizado no Brasil – diferente de ‘quase o mesmo’ português falado em Portugal, em Angola e em Moçambique, por exemplo – possui peculiaridades que só aqui compreendemos (ou não). São tantas regras, acentos, sonoridades, conjugação de verbos, parônimos, homônimos, sinônimos, antônimos, apostos, concordâncias e exceções que tornam a aprendizagem muito mais complexa e demorada que a nossa vã filosofia possa imaginar. Sem falar nas palavras difíceis, aquelas de significados estranhos e nas pronúncias e sotaques das diferentes regiões brasileiras.

Agora imaginemos a existência de uma máquina do tempo. Será que compreenderíamos certas expressões utilizadas em outras épocas? Ao longo dos mais de 800 anos da língua portuguesa (só de registro oficial) muitas foram esquecidas. Mas não precisamos ir tão longe. Basta que voltemos algumas décadas para identificar palavras – ou significados – que caíram em desuso. Selecionei as top 20 com seus respectivos significados:

– Abreugrafia: uma espécie de raio-X de pulmão, inventado por um médico chamado Manuel de Abreu. Por isso, o batismo com o seu sobrenome;

– Asseado: limpo, arrumado, detalhista com a higiene pessoal;

– Balela: uma história falsa ou exagerada;

– Birosca: pequeno boteco onde se vende artigos de primeira necessidade;

– Borocoxô: triste, desanimado;

– Bugiganga: coisa com pouco valor e pouca utilidade;

– Cafona: pessoa de mau gosto ao se vestir;

– Cafundó: lugar remoto, de difícil acesso;

– Chumbrega: algo de má qualidade, de gosto duvidoso;

– Geringonça: objeto mecânico ou eletrônico complicado e, por vezes, feito por peças improvisadas;

– Lambisgoia: garota intrometida, que adora uma confusão;

– Mequetrefe: pessoa intrometida;

– Pachorra: tolerância;

– Patota: grupo de amigos, turma;

– Pindaíba: em dificuldade financeira;

– Piripaque: ataque nervoso;

– Quiprocó: desentendimento;

– Sirigaita: mulher namoradeira;

– Supimpa: algo muito bom, de alta qualidade;

– Ululante: aquilo que é óbvio.

Agora imagine o seguinte diálogo entre um brasileiro e um angolano, quando o nosso conterrâneo lhe diz: “Esse mequetrefe, embora asseado, é cafona, anda meio borocoxô e numa pindaíba. Isso porque a sua geringonça virou uma bugiganga. Ainda assim, com toda sua pachorra, ele adora reunir a patota na birosca de um cafundó para uma boa balela, que às vezes vira quiproquó, principalmente quando tem lambisgoias e sirigaitas junto. Se ele não tiver um piripaque, vai achar isso supimpa mesmo que ululante”.

Na Semana Farroupilha se diz “é hora de reculutar os tauras, os cupincha, os cutuba e os vivente para a charla, pro chasque”…

No Carnaval, “ziriguidum, borodogó, telecoteco, balacobaco…”

Simples, né?

Daniel Andriotti

Publicado em 15/9/23

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