É com o coração cheio de esperança que lhe escrevo, Papai Noel. Fazendo aqui minhas orações para que o Senhor consiga me presentear com alguns minutos da sua atenção. Tarefa árdua, eu sei, considerando milhões de entregas mundo afora que já lhe foram solicitadas pelas Americanas, a Amazon e o Mercado Livre.
Já não sendo mais criança, sei muito bem como são estressantes estes dias de final de ano para todos nós, seres comuns; imagino para quem precisa manter vivo o encantamento das crianças, competindo com lançamentos de celulares, jogos de realidade virtual, TikToks e influenciadores virtuais. Sorte sua, soube, dia desses, que há muitos gnomos chineses trabalhando na fábrica de brinquedos e de roupas de festa.
Verdade seja dita, naquela minha antiga infância, era voz corrente a importância do seu trabalho, as dificuldades que enfrentava com tantos pedidos de brinquedos, de irmãozinhos e bicicletas. Saiba que, até hoje, em cada Natal que acontece, sinto uma vontade imensa de lhe agradecer pela amorosa existência em meu coração de criança; sobretudo, pela permanência nele até os dias desse meu tempo de ser avó. Sempre me trazendo o melhor dos presentes, que é a família reunida graças as suas recomendações. E no que se refere à tradição, nem se preocupe comigo, Papai Noel, sigo acreditando no Natal e em seus milagres.
Perfil apresentado com muito respeito e admiração, respiro fundo e entro no assunto desta carta propriamente dito.
Muita gente, Papai Noel, tem se referido ao Senhor com certo desdém, colocando na sua figura querida a responsabilidade pelas infelicidades e injustiças que têm sido cometidas. Sinto-me constrangida por isso, por frases ditas em tom de descrença, pelos apelidos indelicados que os sem esperança têm lhe dado; é o buylling sem fronteiras.
Tem também o pessoal que se diz politicamente correto, que lhe chama de materialista enganador; querem que o Senhor fique no Polo Norte, sem internet nem celular, proibido de conversar com seus seguidores. Além de outros que se apropriaram da cultura, que escondem a verdade e sonham com crianças sem infância nem Natal.
Por tudo isso, Papai Noel, o que mais me preocupa neste ano é a sua visita. Peço-lhe, encarecidamente, que tome cuidado com as palavras, evitando dar opiniões sobre qualquer assunto, nem mesmo sobre as passas de uva que por ventura estiverem em falta no arroz à grega, seu prato preferido. E não se aflija pelas possíveis ausências de abraços ou mesmo de parentes que sempre vinham para a ceia. As divergências políticas e as opiniões relacionadas à própria Constituição passaram de todos os limites por aqui. Está ficando muito difícil até para as crianças que ainda creem na felicidade e no amor da família.
Mas, por favor, não me interprete mal, não quis lhe amedrontar (a última moda nossa). Pensei apenas em desabafar um pouco, lhe prevenir sobre a situação. E fazer um único pedido:
Não desista de nós, Papai Noel!
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 16/12/22
Sorte que o Noel é telepata e sabe como nos fortalecer a esperança! : )
Livre da tirania da Internet e seus algoritmos tendenciosos!
Que continue nos abençoando nos planos dos sonhos que buscam a manifestação!
Linda crônica!