Mortos Sem Sepulturas

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Há uma célebre frase ora atribuída ao professor austríaco Peter Drucker, ora ao estatístico norte-americano William Deming, que diz: “O que não pode ser medido, não tem como ser gerenciado”. Não importa de quem é a autoria. O fundamental é que ela expõe uma verdade aplicável a qualquer situação.

Eleição após eleição, os principais institutos de pesquisa vêm passando vergonha no Brasil. E no último domingo não foi diferente. As urnas escancararam, entre tantas outras ‘leituras’, que os erros nas projeções para intenção de voto passaram dos limites. Tanto aqui no Estado como em nível nacional. Pessoas como eu, que nunca foram ouvidas por qualquer instituto, até costumavam relativizar a ‘discreta’ margem de erro para mais ou para menos. Mas agora a distorção foi muito além do aceitável pela realidade coletiva. Há quem diga que há muito tempo as pesquisas se tornaram irrelevantes para o eleitor. Não estou aqui querendo dizer que elas beneficiam ou prejudicam candidatos ou qualquer tipo de corrente ideológica. Apenas que, ultimamente, têm errado muito feio. Não quero crer que fazem isso de propósito, manipulando números numa tentativa de influenciar o eleitor. Isso, lógico, seria crime (?!?!?!). Ou não?

Sentado diante da tevê no último domingo, entre 18 e 19 horas, comecei a perceber que o resultado das urnas ficava cada vez mais distante das projeções feitas pelos principais institutos de pesquisa na medida que a apuração avançava. O Instituto Ipec, antigo Ibope, no Rio Grande do Sul e em São Paulo – apenas para citar dois exemplos – erraram não só nos percentuais dos candidatos ao governo como também inverteram os nomes de quem aparecia em primeiro lugar nas pesquisas e acabaram em segundo na apuração. Aqui, o senador eleito no domingo aparecia como terceiro colocado no sábado. No Rio de Janeiro, o governador reeleito liderava as pesquisas, mas em nenhum momento foi cogitada a sua vitória no primeiro turno o que, efetivamente, aconteceu. Ou seja: tudo isso estava muito além dos fatídicos ‘dois pontos percentuais para mais ou para menos’…

É claro que a pesquisa é importante no processo eleitoral porque ela traz algumas informações relevantes com relação à situação de um ou de outro candidato e, assim, induzir o eleitor a tomar uma decisão final mais assertiva com base naquilo que os números lhe apresentam, seja com voto útil, estratégico ou não. No entanto, as explicações nem sempre convincentes dos institutos é que a pesquisa é um diagnóstico daquele momento, diferente de uma medição do comportamento eleitoral. Explicam, mas não justificam. Ou devemos acreditar que uma margem de erro de até 17% é normal?

Por isso caros leitores, lhes digo: o abismo entre previsão e resultado foi algo escandaloso (e espero que realmente tenha sido só por ‘metodologia frágil’). Senão, quem vai acreditar nas pesquisas a partir de agora? Somente os mortos sem sepulturas…

Perdem, nesse caso, os institutos sérios. Infelizmente.

 

* * *

Evoluímos enquanto cidadãos – e aqui me refiro especificamente aos candidatos, cabos eleitorais, correligionários e simpatizantes – que na eleição do último domingo foram discretos ao jogar materiais de campanha pelo chão das ruas próximas às zonas eleitorais. Ainda não foi aquela ‘postura dos sonhos’ porque alguns muitos ‘santinhos’ acabaram espalhados pelas calçadas e que, por consequência, irão entupir as bocas de lobo na próxima chuvarada. A minha dúvida é: santinhos jogados nas calçadas trata-se de um ato absurdo de descarte de sobra de campanha ou alguém realmente acredita que o eleitor indeciso vai juntar o papel do chão e usá-lo como “colinha” na hora de votar? Seja qual for a opção, a conta da relação custo versus benefício não fecha…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 07/10/22

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