Morreu Edson. Pelé é eterno

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Escrevi nesse mesmo espaço, há cerca de dois anos, que Pelé foi ímpar. Em campo não era apenas “um” jogador de futebol. Foi “o melhor” que a história registrou. O único que conseguiu marcar mais de 1.200 gols como atleta profissional e vencer três Copas do Mundo com a Seleção Brasileira. Em toda a sua carreira, jogou em apenas dois clubes: o Santos, onde esteve por 18 anos e foi seis vezes campeão brasileiro; duas vezes campeão da Libertadores; ganhou dez vezes o campeonato Paulista, além de uma Recopa e três títulos do Torneio Rio-São Paulo. E o Cosmos, onde esteve por dois anos e ganhou uma North American Soccer League. Tudo isso bastaria para identificá-lo como o Atleta do Século que merecidamente foi. Sempre gentil com a imprensa e os fãs, Pelé tinha uma complexidade física, técnica e tática muito próxima da perfeição.

Mas daqui para a frente é preciso separar o Edson do Pelé. Fora de campo, o rei não teria sido um digno camisa 10. Casou-se três vezes e teve sete filhos. Dois deles ganharam notoriedade por caminhos opostos. Edinho, que também se chama Edson tal qual o pai, chegou a ser goleiro titular do Santos e hoje é técnico do Londrina. Mas sua notoriedade veio mesmo graças aos problemas com a justiça. Foi preso, inicialmente pela participação num homicídio culposo praticando um ‘racha’ num acidente de trânsito; e mais tarde por lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas.

De um relacionamento extraconjugal do rei com a estudante Anísia Machado em 1963, nasceu Sandra Regina – mais tarde e por determinação judicial ‘rebatizada’ como Sandra Arantes do Nascimento. E foi ali que Pelé enterrou a sua filha viva. Uma vez adulta, Sandra travou uma longa batalha pelo reconhecimento da sua paternidade. Após o resultado positivo do exame de DNA, Pelé recorreu da sentença por absurdas 13 vezes!!! E jamais quis aproximação com a filha. Em 2005, Sandra, vereadora na cidade de Santos, foi acometida por um câncer e morreu um ano depois. No leito de morte ainda implorou por uma visita do pai, que não respondeu. Questionado pelo não comparecimento ao velório da filha, disse que “não havia sentimento algum por ela”.

Sandra teve dois filhos e Pelé só viu esses netos uma única vez, em 2011. Matou de desgosto a própria filha mas continuou sendo tratado como rei por tudo o que fez dentro das quatro linhas. A filha desprezada não está mais entre nós há 16 anos. E, no apagar das luzes de 2022, o rei foi ao seu encontro. Morreu o Edson, o pai sórdido. Pelé, o jogador que colocou um acento agudo na camisa 10 e mudou o rumo do futebol no mundo, é eterno.

 

* * *

Lula assumiu com pompa, circunstância e alguma suspeita de que pudesse haver algum tipo de manifestação contrária que acabou não acontecendo porque a direita é ingênua, covarde, receosa, tímida e acuada. Em todos esses quesitos, ela apanha de relho da esquerda. Mesmo assim, Lula não estava muito satisfeito: isso porque imaginou que sua posse ocuparia generosos espaços na imprensa internacional. Ele não contava, no entanto, que na véspera de uma pseudo ampla cobertura morressem o Rei Pelé e o papa emérito Bento XVI, ofuscando seus holofotes. Ninguém consegue ser feliz o tempo inteiro…

 

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Recuperados da ressaca de uma Copa do Mundo fora de época, voltamos ao nosso reduto que é o ‘charmoso Gauchão’. Já ando com saudades de um jogo ruim…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 06/01/23

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