Enquanto gaúchos, vivemos dias muito duros, de notícias difíceis de digerir. Pouco mais de quatro meses tentando assimilar as perdas que a maior enchente da história nos provocou, novas e pequenas tragédias vão surgindo ao longo dos dias que se sucedem no nosso cotidiano. As que envolvem crianças, então, a dor fere mais forte no fundo da alma. Sofremos com o caso ocorrido na Santa Rita, em Guaíba, onde o corpo de uma menina foi encontrado no contêiner de lixo; e com a de Novo Hamburgo, em que a mãe esfaqueou a própria filha dentro de casa. Semana passada, dois outros casos cruéis: um deles, em Porto Alegre, onde uma mulher mata a vizinha grávida para ‘roubar’ o filho que ela trazia no ventre; e a mãe que envenenou as duas filhas gêmeas, de seis anos, no interior do Estado.
Essa semana os casos tristes desse continente de São Pedro envolveram adultos e adolescentes: uma van que trazia atletas de remo de São Paulo para casa, em Pelotas, após uma competição, se envolveu num acidente numa estrada no litoral do Paraná, matando nove pessoas. Esse é o segundo acidente fatal com equipes esportivas em poucos dias. No final de setembro, o ônibus que transportava o time de futebol americano Coritiba Crocodiles, tombou na descida da Serra das Araras, no sul do Rio de Janeiro, matando três pessoas.
E não menos impactante foi o caso mais recente: o de um homem em surto psicótico, fortemente armado, em Novo Hamburgo, na quarta-feira. Ele matou a tiros o pai, o irmão, um brigadiano; e trocou centenas de disparos com a polícia, ferindo outras nove pessoas – incluindo a mãe e a cunhada. Depois de algumas horas, acuado, foi encontrado morto dentro de casa. Parece raro no Brasil, comum se fosse nos Estados Unidos…
Onde estamos errando enquanto humanidade? Com exceção dos acidentes envolvendo atletas, os demais casos que citei envolvem gravíssimos distúrbios da mente. Matar pais e filhos foge da nossa compreensão de meros mortais. Entender os impactos da saúde mental não é para amadores. Trata-se de um cenário extremamente preocupante que requer a difícil busca de soluções eficazes para reversão. A ciência fala em “medidas de educação preventiva para evitar, tanto o desenvolvimento de novos casos quanto a piora dos pacientes já diagnosticados”. Mas como??? Há um estudo da Organização Mundial da Saúde que considera a pandemia e seus fatores – como perdas humanas desenfreadas, questões financeiras e os desafios resultantes do isolamento social – como um gatilho para piorar a saúde mental coletiva de 25% da população mundial. Consideramos que para nós, gaúchos, a coisa pode ser pior porque teve também a enchente para piorar um quadro que já era preocupante…
Mesmo que ainda existam muitos mitos sobre a saúde mental, as pesquisas científicas sugerem que as doenças mais predominantes na população sejam a ansiedade, a depressão e a bipolaridade, entre outras. A notícia boa é que tudo isso tem tratamento. Desde que a busca por ajuda não seja tarde demais…
Uma dica: façamos como manda a canção do músico paulista Walter Franco, já falecido. “…Tudo é uma questão de manter; a mente quieta; a espinha ereta; e o coração tranquilo”.
Daniel Andriotti
Publicado em 25/10/24