O assunto da semana foi… ele: Donald Trump. Sim, o furacão nova-iorquino e republicano de extrema direita está de volta. Aquele que abre a porta da geladeira com o pé – e também outras portas da mesma maneira – e que não costuma levar desaforo para casa (Casa Branca, no caso). Trump será – novamente – o presidente do povo norte-americano pelos próximos quatro anos, ‘le duela a quien le duela’, como diria Fernando Collor de Mello num portunhol ordinário durante um discurso na Argentina há 30 anos. Donald Trump será o 47º depois de ter sido o 45º presidente dos EUA. Derrotou a candidata Democrata Kamala Harris que, perdão pelo trocadilho infame, já está Kamala pronta.
Outro dia escrevi aqui que a crônica esportiva de Rio e São Paulo não esconde do público quais são os seus times do coração. E por outro lado o quanto é ridículo o fato dos seus colegas jornalistas, dos principais veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, ficarem dizendo que ‘torcem para o Zequinha’, numa dialética mesquinha para tentar esconder suas preferências clubistas. Dizem que – além de ser uma estratégia de marketing – a rivalidade Gre-Nal é tão acirrada que, caso admitam torcer para um ou para o outro, a cobrança nas ruas é muito acintosa e, por vezes, agressiva. Uma bobagem porque todo mundo sabe para quem eles torcem e com isso a situação fica pior, pois a ‘falsa isenção’ ou a pseudo ‘imparcialidade’ soa como um remendo pior que o soneto. Um cinismo, uma hipocrisia…
O mesmo acontece quando os principais (e maiores) veículos de comunicação – de todas as plataformas – tratam a política no Brasil. Essa eleição nos Estados Unidos, cujo desfecho aconteceu essa semana, os maiores e mais importantes jornais se posicionaram abertamente, durante toda a campanha, em favor do candidato “A” ou do candidato “B”. No Reino Unido também é assim. E isso virou tradição por lá. Diferentemente do que acontece no Brasil, onde os principais veículos de cobertura nacional fazem aquele papelão ridículo do “somos isentos, imparciais…”, que é muito pior, pois as pessoas – mesmo aquelas que disponham de um único neurônio – sabem quem apoia quem, e porquê apoia. E tem pior: a sociedade também sabe quem paga a conta disso. Assumir, nesse caso, soa menos antipático do que tentar disfarçar. O leitor pode escolher um sinônimo: cinismo ou hipocrisia?
Para que se tenha uma ideia: os jornais The Washington Times e New York Post apoiaram Trump, enquanto a revista The Economist (embora seja britânica) e o The New York Times apoiaram Kamala. O The Washington Post, o Los Angeles Times e o Wall Street Journal não apoiaram nem um, nem outro. Mas eles deixam isso muito claro, diferente do que ‘tentam fazer’ – sem sucesso – os principais veículos brasileiros.
Como diria o meu velho e saudoso pai, ‘se não sabe fazer, deixa quieto, mas não tenta enganar que é pior…’
Daniel Andriotti
Publicado em 8/11/24