Quem acompanha os meus textos sabe que alimento uma profunda antipatia pela ponte do Guaíba. Não exatamente pela ponte – batizada lá nos idos dos anos 70 como Travessia Getúlio Vargas –, mas por aquele bloco de cimento, ferro e asfalto conhecido como vão móvel. Pois bem, toda vez que sobe ele atrapalha a vida de meio mundo (ou da metade do Rio Grande). Quando desce, já estamos no lucro: perdemos 20 ou 30 minutos, sofremos um ‘arrastão’, mas vamos em frente.
A chamada ‘ponte velha’ faz quatro meses que está em meia pista para uma reforma que ninguém sabe exatamente qual é. Quando aquele trecho da rodovia opera com quatro pistas já se desenha o caos na hora do ‘rush’. Imagine agora, com duas. Bom, mas… temos a ‘ponte nova’. Mais ou menos, né? Se você está vindo do Centro de Porto Alegre com destino ao sul do Estado ela não faz muito sentido porque não tem como acessá-la – a não ser que você venha do Vale dos Sinos, Gravataí, Cachoeirinha… Sabe por que? Porque a obra está inacabada. Mas por que ela está inacabada? É que onde deveria ser o seu acesso existem casas em áreas públicas que foram invadidas. E tirar gente de áreas públicas invadidas, no Brasil, é tão simples como ganhar sozinho na Mega Sena da virada…
Na época em que o içamento do vão móvel dividia o Estado com a interrupção – mesmo que por alguns minutos – perderam-se inúmeras vidas que se deslocavam para atendimento de urgência em Porto Alegre. Outros morreram ao não perceber que o vão estava aberto e despencaram no rio; além da farra criminosa dos excluídos do sistema capitalista e opressor que se aproveitam para socializar, mesmo sem a permissão dos donos, os pertences que não lhes pertenciam.
E veio a enchente. Muita gente desabrigada naquela região aguarda até hoje pelos recursos prometidos pelo programa “Compra Assistida”. Descontentes – e com razão – eles se uniram aos ‘desabrigados pela alça da ponte’ e resolveram apatifar com quem não tem nada com isso no final da tarde da última terça-feira. Interromperam por mais de 2 horas – num ato extremamente antipático e antidemocrático – a BR-290 na altura das Ilhas e também a Freeway, próximo de onde deveria estar a alça da ‘nova ponte inacabada’. O objetivo: chamar a atenção das autoridades.
No entanto, elas, as autoridades que decidem sobre esse assunto, não passam por ali. Elas andam de avião entre Brasília e uma ou outra escala e conexão de algum lugar do mundo, exceto Guaíba e Eldorado do Sul. Então, a minha sugestão é que na próxima manifestação, ao invés de trancar a BR ou a Freeway, deitem sobre a pista – recém reformada – do aeroporto Salgado Filho. Interrompam o pouso ou a decolagem dos aviões que transportam quem decide sobre esses assuntos. Não utilizem o povo como moeda de troca. Ataquem o mal pela raiz. Irritem a quem decide. A massa de manobra é ingênua e inocente. Ela não tem culpa…
Daniel Andriotti
Publicado em 15/11/24