Havia dois programas de tevê, um nos anos oitenta, o outro, nos noventa, dedicados a nós, mulheres de todas as idades. Foram pioneiros, naquelas décadas de importantes transformações no universo feminino, quando estávamos muito interessadas em conciliar sonhos românticos de casamento e construção de família com nossas carreiras profissionais. Suas apresentadoras, Marília Gabriela e Silvia Poppovic, sem sombra de dúvidas, foram as grandes influenciadoras daqueles dias em que se fazia necessário ter um conjunto de qualidades para conquistar credibilidade e seguidores.
O TV Mulher, que teve início em 1980, abria com cenas de mulheres trabalhando, ao som de “Rosa Choque” na bela voz de Rita Lee, que a compôs em parceria com Roberto de Carvalho. Logo após, Marília Gabriela, competente jornalista, lia o seu editorial e comentava notícias que eram manchetes de jornais daquele dia. Seguiam-
se, então, três horas de informação sobre temas diversos, como saúde, comportamento, estética, direito, gastronomia, tudo que fosse de interesse do universo feminino.
Apresentado no período da manhã, pelo programa passaram homens e mulheres que estavam na vanguarda em suas especialidades. Como Ala Szerman, Clodovil, Marta Suplicy, Zora Yonara, Henfil, Eduardo Mascarenhas e muitos outros.
Marília Gabriela não foi a única no comando do programa TV Mulher, que passava no Rio Grande do Sul pela TV Gaúcha, canal 12, mas foi a primeira e a melhor.
Em 1990, estreou no SBT o Programa Silvia Poppovic, dedicado a debater assuntos de interesse geral, dando ênfase às questões do mundo feminino. Contando com um pequeno grupo de convidados, a inteligente apresentadora, de maneira muito original, tanto concordava quanto discordava dos seus convidados, mostrando aos telespectadores a importância da liberdade de expressão com conhecimento, e o valor de uma mulher que tem personalidade.
Mas o sucesso do programa comandado por Silvia Poppovic, uma excelente jornalista, aconteceu, de verdade, quando ela foi para a Bandeirantes. Provavelmente por seu estilo de paulistana da gema como o próprio canal de tevê. Para nós, gaúchos, era sintonizar na TV Difusora, canal 10.
Mulher positiva e sempre muito segura de si, foi quem ousou falar na dificuldade de encontrar roupas bonitas que lhe coubessem, pois seu padrão, assim como o de milhares de brasileiras, era de tamanhos bem maiores do que os impostos pela moda da época. Contava histórias engraçadas sobre isso, tecendo a devida crítica.
Foi neste programa que conheci gente de talento em diversas áreas, como o psicanalista José Ângelo Gaiarsa, autor de trinta e cinco livros, que estava sempre à frente de seu tempo no que se referia à importância da respiração para a saúde; e já falava em inteligência emocional sem dar esse nome a ela. Assim como me encantei com Roberto Shinyashiki, médico e escritor; e com o padeiro Benjamin Abrahão, a quituteira Palmirinha, entre tanta gente de talento. E gostava das histórias polêmicas que a apresentadora contava, sobre os mais diversos assuntos, levando ao programa depoimentos controversos que provocavam bons e instrutivos debates.
Marília Gabriela e Silvia Poppovic, sem sombra de dúvidas, foram importantes influenciadoras nos anos oitenta e noventa. Naqueles dias, em que era necessário ter um expressivo conjunto de qualidades para conquistar credibilidade e seguidores, elas foram pioneiras.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 17/4/23