É de domínio público que “quando um esperto acorda no Brasil, já tem uns dez otários na rua, trabalhando por ele”. Ou então que “nesse país, a todo momento, um esperto e um otário saem de casa. Em algum momento do dia, eles vão se encontrar…”
Assim são os golpes. Com a pandemia, distanciamento e coisa e tal, os espertos deram um tempo, certo? Erradíssimo. É na hora da angústia e do desespero que o poder da trapaça no Brasil ganha mais força. Em tempos de tecnologia avançada a turma deixou um pouco de lado o velho bilhete premiado pela loteria, oferecido corpo-a-corpo nas calçadas; e migrou para o golpe digital. Já perdeu fôlego – mas deixou marcas profundas – o tempo em que o nosso telefone celular tocava e, do outro lado da linha, uma voz de criança desesperada: “Pai!!! Mãe!!! Me ajuda!!! Me tira daqui!!! Estão me batendo. Eles vão me matar!!!”. Em seguida, um suposto sequestrador começava a ‘negociar’ um valor para o resgate. Ligações essas que, em sua maioria, partiam de dentro dos presídios. Muita gente perdeu algum ou muito dinheiro nesse tipo de ameaça. Mesmo quem não caiu, ainda lembra da angústia na hora que recebeu a tal da ligação. Mais recentemente, com o WhatsApp substituindo as ligações de voz, a bandidagem – rápida e criativa – se organizou: veio o golpe dos nudes, onde uma ‘suposta garota muito jovem e sensual’ escolhe uma vítima do sexo masculino nas redes sociais e pede que ele lhe envie fotos despido por WhatsApp. Logo depois, uma pessoa telefona dizendo ser o pai da garota e começa a extorsão, ameaçando inclusive membros da família, por se tratar de uma ‘menor de idade’…
O mais recente – porém muito lucrativo – é o da conta falsa. Criminosos clonam um número de telefone de mesmo código de área e adicionam nome, foto de perfil e status. Na sequência, entram em contato com amigos da vítima para avisar que trocou de número de telefone – ‘provisória ou definitivamente’ – para, logo em seguida, pedir dinheiro a fim de quitar um boleto cujo saldo extrapolou o limite diário, blá, blá, blá… E tem ainda, entre outros, o “e-golpe”, via e-commerce (transações comerciais por meio de compras pela internet usando cartão de crédito). Esse, um pouco mais sofisticado, cujas vítimas pertencem a um segmento ‘mais’ classe média. Seja qual for o tipo de cilada o teatro está sempre presente. Ainda que à distância, os golpistas exercem cada vez mais seus poderes de persuasão e o enganado pode até ‘sentir um cheiro do golpe’ mas prefere ignorá-lo movido pela angústia de ajudar um amigo ou familiar.
No Brasil, todos somos obrigados a utilizar o mais mercenário dos sistemas: o bancário. E os criminosos, é claro, sabem disso melhor do que ninguém. Por isso, não se iluda que o dinheiro perdido num golpe será restituído pela sua instituição bancária, salvo raríssimas exceções. Afinal de contas, a transação teve o seu consentimento, mesmo que a partir de uma história fantasiosa e entregue de forma consciente a quem de fato não merecia.
Para quem gosta de estatísticas, os golpistas aumentaram sua atuação em 74% nos últimos meses só no Rio Grande do Sul. Estamos falando de mais de 5 mil registros por mês (fora os que não são registrados) ou, um e-golpe contra gaúchos a cada 11 minutos. Ano passado, cerca de 8 milhões de consumidores em todo o país sofreu algum tipo de golpe financeiro. Se conselho resolvesse ele seria vendido. Mas não custa avisar seus contatos sobre esses tipos de crimes. A maldade humana, definitivamente, não tem limites. Nunca teve. Talvez, nunca terá.
Daniel Andriotti
Publicado em 24/2/23