Mais Chuteiras, Menos Salto

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Tenho assistido a muitos jogos de futebol feminino. Não há, evidentemente, como traçar um critério de semelhança tática e técnica com o futebol masculino. Além, é claro, da diferença amazônica entre os salários, tenho observado muitas particularidades que nos fazem admirar cada vez mais uma partida de futebol entre mulheres do que entre homens. Por exemplo: jogo pegado. Na disputa pela bola, uma atleta sofre uma falta dura. Mesmo com aquela careta de dor e esparramada no chão, ela respira fundo, massageia com a própria mão o local onde levou a pancada e, em menos de 30 segundos está de pé novamente. Com tal atitude, a árbitra dispensa a entrada do médico e da maca. E segue o jogo…

Corta a cena para o futebol masculino. O jogador sofre uma falta nem tão dura assim. Solta um grito capaz de ser ouvido até fora do estádio. Cai por cima da bola e fica abraçado nela antes mesmo do juiz apitar a falta. A expressão de dor é assustadora. Ele permanece imóvel. Seus colegas de time se dividem em três grupos: um, ao redor do atleta caído para ‘filar’ uma água que o médico e o massagista sempre carregam naquelas maletas. Outro grupo pressiona o juiz pela expulsão do adversário. E o terceiro fica dando ‘peitaço’ no agressor para ameaçá-lo. O jogo parado. Então, a arbitragem autoriza a entrada da maca (o médico e o massagista, que já estavam em campo, ‘atestaram’ que o caso é ‘grave’). Vem o carrinho. Coloca o jogador. ‘a vítima’ pula da maca ainda em movimento, pronto para voltar como se tivesse ficado bom num passe de mágica. Grita para o árbitro pedindo autorização… O assistente segura-o pelo braço. Enquanto isso, seus colegas se preparam para a cobrança da falta, mas o juiz não autoriza: ele está com o dedo no ouvido empurrando o ponto eletrônico tentando escutar o que dizem seus colegas na cabine do VAR. A barreira se adianta. O juiz faz nova marcação de spray no chão. O batedor toma distância, mas… volta caminhando lentamente até a bola. Pega ela nas mãos, alisa, seca na camiseta, gira até ela ficar com o ventil apontado para o lado da barreira. Recoloca a bola no lugar. Já se passaram dois minutos e meio. No empurra-empurra da barreira, alguém cai. A barreira se desfaz. O juiz puxa o cartão amarelo. O bate-boca é intenso. Três, quatro minutos de bola parada…

Corta para os salários: atualmente, o jogador mais bem pago do mundo é o português Cristiano Ronaldo, do Al Nassr. Somente em salários recebe algo em torno de U$S 285 milhões por ano. Uns R$ 143 milhões de reais por mês. A melhor jogadora do mundo na atualidade, Aitana Bonmati, do Barcelona, recebe 1 milhão de euros, por ano. Coisa de R$ 500 mil reais por mês. Marta, a brasileira seis vezes eleita como a melhor do mundo recebe um pouco menos: R$ 400 mil por mês. O salário do CR7 é 286 vezes maior que o de Aitana Bonmati…

Outra grande diferença entre os sexos no futebol é que os homens desfrutam de amplos e generosos espaços na mídia. Isso promove atletas que, por consequência, desperta atenção dos patrocinadores e a cobiça dos empresários. Mesmo assim, a situação do futebol feminino já foi pior. E não estou me referindo apenas ao Brasil. Na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos não é muito diferente. Por anos a fio, essas diferenças mantiveram o futebol feminino na exclusão das competições, dos empresários, da mídia, dos torcedores. Mas finalmente agora, elas estão chegando ao poder. Das quatro linhas, inclusive.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 18/4/25

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