Era dezembro e Simone cantava por todos os alto-falantes do país: “… Então é Natal; e o que você fez?”. Foi quando Luis da Silva, um brasileiro, pernambucano, quase oitenta anos, estava no banheiro da sua casa e, ao guardar num armário suspenso o cortador de unhas que recém havia usado, tropeçou num banquinho e caiu. Caiu feio, batendo a cabeça.
Meio tonto, tratou de chamar a mulher para que fizesse um curativo a fim de estancar o sangue. No dia seguinte, sonolento e com fortes dores no local, decidiu procurar um hospital público mais próximo da sua residência. No entanto, não conseguiu uma consulta com o médico plantonista porque havia uma fila muito grande e o caso dele foi avaliado como ‘não muito urgente’. Foi então, recomendado pelas recepcionistas, que procurasse um posto de saúde no dia seguinte. Luis da Silva seguiu a recomendação e foi. Mas teve que sair de casa às 5 horas da manhã para chegar o mais cedo possível na fila e garantir uma senha.
Quando finalmente foi atendido pelo médico, um clínico geral, ‘seu’ Luis recebeu a orientação de consultar com um especialista para uma melhor avaliação do caso. Ele reuniu a documentação necessária e conseguiu agendar uma consulta com um neurologista, mas… para dali a três meses. Noventa dias depois, no consultório, o médico pediu que ele fizesse uma ressonância magnética para identificar, no detalhe, a causa das dores de cabeça. O problema é que conseguir vaga para esse tipo de exame pelo sistema público é um motivo suficiente para que o senhor Luis da Silva tivesse ainda mais dor de cabeça. E assim, pediram para que ele voltasse dali a 60 dias. Ele espera pacientemente até porque, não tem outra opção. Passados os dois meses, ele consegue fazer o exame e, com o laudo em mãos, tenta regressar ao neurologista. Mas só consegue depois de 30 dias. Chegado o dia, o médico percebe, pelo laudo da ressonância, que o caso do ‘seu’ Luis necessita de uma cirurgia ‘para ontem’. E pede que o procedimento seja feito o mais breve possível, grifando naquele monte de guias o termo ‘extrema urgência’. Com isso, ‘seu’ Luis consegue agendar para dali a 30 dias…
Ele perde a paciência e… volte a leitura para o primeiro parágrafo. No mesmo momento em que caiu no banheiro e bateu a cabeça, Luis da Silva pegou um avião executivo e rumou para o hospital Sírio-Líbanês, em São Paulo. Em menos de 12 horas tudo estava resolvido. Simples como a vida deve ser.
SUS para muitos, Sírio-Libanês para quem, talvez, mereça. Que é o caso do senhor Luis da Silva, um brasileiro.
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Leitores, que o bom velhinho seja para todos vocês, aquele senhor de bochechas vermelhas, que ri ao som do ‘ho-ho-ho’, que viaja o mundo a bordo de um trenó puxado por renas; generoso e divertido com as crianças; diferente do Krampus, aquela versão maligna do Santa Clauss que, para nós gaúchos, esse ano, veio disfarçado de forças da natureza…
Daniel Andriotti
Publicado em 20/12/24