Expressões que ouvimos e falamos com naturalidade podem ter significados que sequer imaginamos. Presente de grego, sair à francesa, programa de índio, chutar o balde e pra inglês ver são algumas das mais conhecidas.
Narrativas da História, gregos e troianos travaram difícil guerra durante dez anos, de combates violentos, em decorrência do romance entre o rei de Troia e a primeira-dama de Esparta. Os gregos cercavam Troia, mas não conseguiam invadi-la. Até que tiveram a ideia de construir um gigantesco cavalo de madeira, oco, colocar soldados armados lá dentro e deixá-lo no portão de Troia. Deu certo.
Pensando que o cavalo tivesse sido abandonado pelos gregos em retirada, levaram-no para dentro de seu território. Na madrugada, os gregos saíram do “presente”, abriram os portões para seus compatriotas e finalmente invadiram Troia, vencendo a guerra. Por isso, quando uma pessoa recebe algo que aparentemente lhe causará alegria, mas depois lhe traz problemas, costuma-se dizer que ela ganhou um presente de grego.
Seguindo na linguagem figurada, ao nos retirarmos discretamente de uma festa, de um evento, sem despedidas para não interromper os demais, dizemos que foi uma saída à francesa. Alguns historiadores acreditam que esta expressão tenha surgido pela falta de vistoria oficial nas mercadorias que saíam da França, sem pagamento de impostos. Porque é difícil de acreditar que um povo tão apaixonado por etiqueta social fosse capaz de sair assim. Contudo, não sabemos ao certo de onde realmente veio a tal expressão para certas retiradas sociais estratégicas.
Entre as expressões, figura programa de índio, usada para atividades enfadonhas, sem graça. Acredita-se que surgiu pela comparação com os dias de calor intenso nas aldeias indígenas, quando todos ficavam sem nada a fazer, entregues à preguiça e ao ócio, apenas esperando por temperaturas melhores. Daí, quando alguma festa ou evento deixa a desejar pela monotonia, é classificado como programa de índio.
Outra conhecida nossa se refere a dar um chute no balde para expressamos o fim da paciência e dos bons modos. De acordo com alguns estudiosos, a origem está no passado histórico de execuções pela forca. Os condenados ficavam em pé sobre uma caixa, por vezes até um balde, e o carrasco chutava no momento de aplicar a pena. Outra versão se refere à vaca na ordenha. Quando se sentia incomodada, o que lhe restava era simplesmente chutar o balde.
Como sinônimo de desfaçatez, foi inventado o termo pra inglês ver. Por volta de 1830, segundo estudiosos, a Inglaterra começou a pressionar o Brasil para que criasse leis contra o tráfico de escravos. E o nosso compromisso moral com os ingleses foi honrado: em 1831, entrou em vigor uma lei que, além de proibir o tráfico, mandava libertar os escravos que aqui chegassem. No entanto, todo mundo sabia que a nova lei não era cumprida, a economia brasileira dependia da mão de obra escrava. Apenas soltavam alguns escravos para mostrar aos ingleses que, em solo brasileiro, todos eram livres; e as leis, cumpridas.
Cristina André
Publicado em 22/3/24