Namorar é verbo transitivo direto, explicou a professora, pois quem namora, namora com alguém. Que conquiste seu coração, completaram os estudantes, sonhando viver esta emoção.
Antigamente, lá bem para trás, em outros tempos, rapazes com brilhantina nos cabelos, moças de saia pregueada e cinto largo, para aquela admirada ação, todos diziam cortejar.
Mocinhas coquetes, naquela e em outras próximas décadas, laquê nos cabelos virados para fora, apaixonadas por tuíste e hully-gully, esperavam que os tais guris encabulados viessem na sua direção.
Os condutores da pista, por falta de iniciativa, ficavam pregados no parquê. Bebericando cuba-libre, olhavam para os lados, disfarçando, e na festa quase finda, tiravam-nas para dançar.
Restando breves, os emocionantes momentos, anunciava-se a música lenta, dançar de mãos seguradas, quase na altura dos ombros, sem rosto colado nem demonstrar paixão.
Aquele verbo, então, que fora apenas transitivo, na lição ensinada na escola, começava a se mostrar bem direto. De repente, se fez todo novo, saiu da aula e foi para o baile, batizaram-no de paquerar.
Desta forma a chamá-lo, mudou seu jeito de ser. Era verbo transitivo direto, questionou a professora, pois quem namora, namora com alguém. E sendo também intransitivo, conservará antiga emoção?
Ousou ainda mais, o tal namorar de antes. Sem ao menos se explicar, aquele verbo sonhador, que na escola já atendera por flertar, foi mudando muito de nome, de andar de onda e até de ficar.
Sabendo dos perigos tantos que o romantismo enfrentava, no dia 12 de junho, em uma aula especial, a professora escreveu no seu quadro mural: namorar foi sempre o mesmo, seu nome apenas esconde, para não ser dito em vão. Anda por aí, firme e forte, cheio de amor no coração!
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 10/6/22