Como passei dos 60 anos de idade, já acompanhei muitas campanhas eleitorais e, consequentemente, já vi muita coisa medonha. Neste espetáculo bizarro de caça-votos, anúncios de grandes investimentos se destacam no cenário do papo-furado. No combo eleitoreiro, aparecem, ainda, enxames de santinhos do pau oco e de especialistas da patavina salivando por um CC gordo.
Há alguns anos, jornais caíam do céu neste período de testilha, prometendo revolucionar o mundo das comunicações com muita imparcialidade, é claro; muita. Com a revolução tecnológica, surgiram blogs, redes sociais, TVs, rádios e podcasts, que se multiplicam na pré-eleição, comandados por comedores de “S” e inimigos da concordância verbal, dando coreografia nervosa aos dedos justiceiros.
O desfile dos sonsos, sacaneando a Língua Portuguesa, já começou e vai se intensificando na passarela da perfídia na medida em que o pleito se aproxima. Lá vem bomba.
Municípios podem colapsar
Em um clima de preocupação e urgência, a reunião-almoço do Tá na Mesa dessa semana, promovida pela Federasul, recebeu o presidente da Famurs, Marcelo Arruda, que falou sobre os desafios das prefeituras do Rio Grande do Sul após as devastadoras enchentes que assolaram o Estado. Ele destacou, em sua palestra “A Reconstrução do RS por meio dos Municípios”, a necessidade de ações imediatas e coordenadas para enfrentar o pós-calamidade e defendeu mais recursos federais para “evitar o colapso” das 478 cidades afetadas (sendo 349 em emergência, 95 em calamidade).
Rodrigo Sousa Costa, presidente da Federasul, não poupou críticas à atuação do Governo Federal para auxiliar o RS neste momento de desastre, destacando falta de conexão das ações governamentais com a realidade enfrentada pelos municípios.
Marcelo Arruda criticou a burocracia do acesso aos auxílios do Governo Federal, salientando que tinham que ser liberados diretamente, além de enfatizar a insuficiência dos auxílios anunciados para o Estado. Arruda ressaltou, ainda, que os municípios estão enfrentando uma queda significativa na arrecadação, com uma diminuição de 25% na receita em muitas localidades afetadas. Ele lembrou que a antecipação do ICMS devido à perda de arrecadação, que está em negociação entre os governos estadual e federal, também não é o bastante, considerando que esta antecipação ajuda de forma paliativa por não se tratar de dinheiro novo.
O presidente da Famurs enfatizou que o ICMS teve uma redução significativa, com uma queda de 21% em maio e 22% em junho, totalizando uma perda de R$ 394,5 milhões. Nesse contexto, Arruda alertou que as prefeituras correm o risco de não conseguirem pagar serviços básicos se não houver maior robustez nos auxílios federais, necessitando de adiamentos e compensações fiscais para mitigar as perdas.
O encontro destacou a importância da união pelo Rio Grande do Sul neste trabalho de reconstrução do Estado.
Única Alternativa
Todos os dias, eu olho para o Lago Guaíba e me assusto com o teimoso nível elevado da água. O cenário é de destruição, há lixo por todos os lados, apesar das centenas e centenas de caçambas de entulhos recolhidos.
A chuva continua no vaivém, seguida de frio; as previsões climáticas não são boas. O momento é de sufoco, é duro e parece que não vai ter fim, mas vai passar. E o que temos de fazer é lutar para transcender este momento ruim, pois lutar é a única alternativa que temos.
O Recado
Esta catástrofe climática deixou um recado muito claro: se não houver uma mudança radical na maneira como as cidades estão ocupando suas áreas; se não houver planejamento técnico; e se continuarmos com a política do faz de conta em relação às questões ambientais, iremos perpetuar o sofrimento.
A Certeza
Passando pela Região das Ilhas, no caminho para Porto Alegre, o cenário nos dá a certeza de que é completamente inviável manter habitações naquela área, ainda mais quando consideramos o histórico.
Leandro André
Publicado em 28/6/24