Sete de abril é o Dia do Jornalista. Sempre recebo muitos cumprimentos por essa data, que agradeço gentilmente, mas esclareço que embora o jornalismo esteja infiltrado nas minhas veias desde 1983 – e lá se vão 41 anos quando comecei junto com o extinto jornal O Repórter –, eu sou bacharel em comunicação social, mas minha habilitação é em publicidade e propaganda, a terceira do triunvirato, ao lado do jornalismo e das relações públicas. A partir daí seus profissionais se pulverizam em diversas áreas, como cinema, áudio visual, marketing, mídias digitais, comunicação organizacional e por aí afora.
Tenho um grande amigo, que há anos trabalha num dos ainda poucos jornais de impressão diária no Brasil, que diz: “jornalista é aquela pessoa que tem opinião formada sobre tudo, mas não se aprofunda em nada”. Tenho outro, mais irônico que sempre fala: “jornalista é aquele que pagando bem, até publica a verdade”. Eu sou menos ácido: acho que jornalista tem a função de transformar fatos em notícias para perpetuar esses acontecimentos na história. Mais poético, né? Há quem diga que jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.
O Dia do Jornalista homenageia a memória de Giovanni Batistta Líbero Badaró, que além de jornalista era médico. Criador do jornal independente Observatório Constitucional, Libero Badaró foi assassinado por inimigos políticos em 1830 por ser um dos ativistas na luta pelo fim da monarquia portuguesa e pela independência do Brasil. Por consequência, um oposicionista de D. Pedro I. O fato levou o imperador a abdicar do trono no ano seguinte, deixando em seu lugar, o filho D. Pedro II, de 14 anos. Mas a data em homenagem aos jornalistas só foi instituída pela Associação Brasileira de Imprensa exatos 100 anos depois, em 1931.
O jornalismo atual vive o conflito entre novas tecnologias e velhos valores. A popularização frenética do imediatismo na comunicação tornou necessária e urgente uma mudança profunda nos valores que orientam o exercício do jornalismo dos últimos anos. É toda uma cultura profissional consolidada durante quase duzentos anos que está sendo submetida a um tratamento de choque.
Nas redações, antes nubladas pela fumaça de cigarro, não se discute mais se o computador é melhor ou pior do que a máquina de escrever, nem se o jornalismo online é ou não eficiente na publicação de conteúdo. A boa notícia é que a maioria absoluta dos profissionais ainda acredita que o jornalismo deve ser imparcial e objetivo, que as reportagens, seja num jornal, num telejornal ou numa revista são a expressão da verdade.
Hoje, a ciência prova a todo momento que não existe mais imparcialidade completa, nem objetividade total e muito menos que é possível chegar à verdade absoluta. A imparcialidade, objetividade, isenção e veracidade são valores desenvolvidos pela indústria de jornais e revistas no século XVIII como uma reação de alguns grupos da imprensa contra o chamado “jornalismo marrom” (sensacionalista) que faturava alto ao publicar notícias escandalosas, inescrupulosas ou mentirosas. Foi uma disputa financeira onde grupos midiáticos vinculados às elites sociais apostaram na moralização da imprensa por meio de campanhas contra a imoralidade, mistificação, falsidade e desvirtuamento de dados ou fatos.
A imprensa sensacionalista ainda existe – hoje sob o manto das fake news. Mas ela perdeu o protagonismo de antigamente diante do crescimento de corporações interessadas em participar do jogo político e da luta pelo poder econômico. Os valores da imprensa dos séculos XIX e XX não perderam validade, mas a estrutura de produção sobre a qual se apoia o jornalismo digital do século XXI tornou necessária e inadiável a adoção de novos conceitos e parâmetros ideológicos.
Não sei dizer se feliz ou infelizmente…
Daniel Andriotti
Publicado em 26/4/24