Jornalismo na alça de mira

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Quinta passada, dia 7, foi o Dia do Jornalista. Tenho um grande amigo, que há anos trabalha num dos ainda poucos jornais de impressão diária no Brasil, que diz: “jornalista é aquela pessoa que tem opinião formada sobre tudo, mas não se aprofunda em nada”. E acrescenta: “pagando bem, jornalista publica até a verdade”. Eu sou menos ácido: acho que jornalista tem a função de transformar fatos em notícias para perpetuar esses acontecimentos na história. Mais poético, né? Há quem diga que jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.

Por falar em publicidade, recebi muitos cumprimentos pelo Dia do Jornalista, que agradeci à medida do possível, mas sempre esclareço que embora o jornalismo esteja infiltrado nas minhas veias desde 1983 – e lá se vão 39 anos quando comecei junto com o extinto jornal O Repórter –, a minha graduação é em publicidade e propaganda, a terceira do triunvirato da comunicação social, ao lado do jornalismo e das relações públicas. A partir daí seus profissionais se pulverizam em diversas áreas, como cinema, áudio visual, marketing, mídias digitais, comunicação organizacional e por aí afora. Ponto, nova linha, parágrafo, letra maiúscula.

Vivemos uma dicotomia. Divisão de um todo em duas partes: no caso, a vida e a morte. Muito provavelmente você já ouviu a expressão ‘plano maquiavélico’. Pois bem, o italiano Nicolau Maquiavel foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e… estigmatizado pela heresia: seu pensamento era prático e efetivo, do ponto de vista político e militar, não gratuitamente maldoso como as frases atribuídas a ele. O termo “maquiavélico” é descrito como ardiloso, astuto, pessoa que não se importa com os meios usados para atingir seus objetivos. Três de suas célebres frases que mais me impressionam são:

“Quando você tiver de fazer algum mal a alguém, faça-o todo de uma só vez. A dor será intensa, mas apenas uma. Já o bem, faça-o em parcelas. O favorecido ficará alegre e grato a você várias vezes”;

“O fim justifica os meios”;

“Nunca foi sensata a decisão de causar desespero na humanidade”.

Difícil dizer em que outro momento da história o jornalismo sério, ético, sensato, investigativo e imparcial viveu momentos tão difíceis. As polarizações, as descrenças pela politização de tudo, os interesses em defesa das ideologias, as fake news, a confusão que as redes sociais provocam na cabeça de quem não consegue – ou não quer – compreender os muitos lados de uma mesma questão, transformaram o mundo da comunicação numa linha muito tênue entre a verdade e o absurdo.

Quando nos damos conta das dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas que tanto gostávamos e que a pandemia em tão pouco tempo tirou do nosso convívio, chegamos a pensar que o abalo da nossa alma bateu no limite; e que o mundo não nos dá tréguas quando resolve ser bárbaro e cruel. Até começarem a disparar os primeiros mísseis de uma guerra. Sai a pandemia, que praticamente reinventou o jornalismo. Entra uma pseudo terceira guerra mundial, iniciada pela Rússia.

Desconheço a existência de uma espécie capaz de sentir tanto prazer na maldade senão a espécie humana. Há quem diga que o homem é o lobo do homem. Eu entendo que o homem é o lobo até do lobo.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 15/4/22

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