Jason Bourne, Boris Johnson e Yuri Alberto

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Já faz algum tempo que antipatizo com a expressão “fogo amigo”, ela me causa desconforto, mexe sobremaneira com minhas convicções. Certamente, por significar um ataque sofrido por parte de pessoas nas quais se depositou confiança, como amigos, colegas, aliados. É assim denominada pela ocorrência de um engano, ou seja, sem querer, ou em consequência de interpretação equivocada, de cálculo malfeito. Contudo, também pode acontecer conscientemente, por querer, configurando-se em atitude que atendia por “traição” e, agora, entrou no rol do tal “fogo amigo”.

Quem gosta e costuma assistir filmes de espionagem internacional sabe que é muito comum entrar em cena o “fogo amigo”. Os diretores de cinema têm mostrado, sem pudor e fazendo impressionante autocrítica, o que agências de inteligência mundo afora são capazes de fazer a homens e mulheres de suas equipes, depois de anos de trabalho patriótico, correndo constante risco de vida pelo bem do país. Quando começam a conhecer os bastidores e a verdade vem à tona, não conseguem mais retomar suas reais identidades, precisam fugir da “queima de arquivo” para continuarem vivos. Do tal “fogo amigo”

Aqueles que acompanham noticiários políticos também têm conhecimento de que o “fogo amigo” é o novo nome da “puxada de tapete”. Vejamos o caso do primeiro ministro do Reino Unido, que está deixando o cargo por causa de várias presepadas feitas em terras de Primeiro Mundo, vejam só. Tudo começou com a decretação do lockdown (confinamento) durante a pandemia. Enquanto estavam todos trancafiados em casa, seguindo os protocolos à risca, o primeiro ministro fez uma baita festa, todo mundo bebeu e dançou sem máscara. E alguém filmou.

Como se não bastasse, organizou outro encontro festivo privado, que bombou, justo no dia em que a população lamentava a perda do Consorte (marido da Rainha). E seguiu com outros escândalos, pronunciando-se contra descentes de estrangeiros, contaminando pessoas com suas atitudes negacionistas em relação à pandemia, ao mesmo tempo celebrando a venda de vacinas para o mundo. Exemplo gritante do tal “fogo amigo”, neste caso, contra si mesmo.

Eis que saio do complicado e restrito universo dos agentes secretos estrangeiros e dos altos escalões da política europeia, e me dedico ao esporte que é a única unanimidade nacional, o nosso futebol. Observando as manifestações de alguns atletas que estavam na zona de conflito entre Rússia e Ucrânia e voltaram ao Brasil, me chamou a atenção, nos últimos dias, a postura desrespeitosa de um centroavante que foi preparado e lançado nos campos porto-alegrenses e que optou por jogar em time paulista. A escolha seria recebida como normal, se ele não tivesse debochado do clube e da torcida gaúcha que o consagraram. Esse “fogo amigo”, com certeza, pegou muito mal para o jogador.

Já faz algum tempo que antipatizo com a expressão “fogo amigo”, certamente porque mexe sobremaneira com as minhas convicções.

 

Cristina André

Publicado em 8/7/22

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