Na sociedade contemporânea, pós-moderna e permeada por características individualistas, a reconstrução da realidade passa por uma reavaliação de antigas crenças e ações do comportamento humano. Nesse momento, no Brasil e não por acaso quando se aproxima uma eleição presidencial, há uma inversão de valores predominando no cenário da vida nacional. Não se trata de nada estranho e nem ao acaso. Faz parte de uma estratégia montada por quem está afastado do poder há quase seis anos. Quando querem nos fazer acreditar que criminosos são mocinhos e a polícia é vilã, estamos irremediavelmente perdidos. Mas repito: até aqui, nada de novo…
A inversão de valores me incomoda. Principalmente quando esse assunto é ligado a conceitos de moral e ética. Mais inquietante que a inversão de valores é a ausência de princípios. É diferente, por exemplo, quando um segmento da imprensa, carregada com sotaque ideológico, assume o papel do politicamente correto. Mas pelo menos é uma minoria. Somente profissionais mesquinhos e hipócritas misturam jornalismo com manipulação. Na verdade, o que boa parte da mídia e das organizações ligadas aos Direitos Humanos, hipócritas e maquiavélicas fazem questão de enfatizar junto à sociedade é que temos bandidos de fardas que matam indiscriminadamente, como se todas as corporações fossem formadas por corruptos e assassinos.
Outro dia um homem morreu ao trocar tiros com a polícia após ser perseguido ao fugir de uma blitze. Primeira observação: o que leva alguém a fugir de uma abordagem policial??? Segunda: por qual motivo, revestido de uma grande carga de coragem, alguém troca tiros com a polícia??? Essas duas questões, por si só, bastariam para que se entendesse o desfecho. Logo depois, ficamos sabendo que ele portava um fuzil AK-47, uma submetralhadora Uzi e usava uma tornozeleira eletrônica. Esse último acessório ‘conquistado’ graças a uma extensa ficha criminal. Quem nos contou? Um segmento da imprensa, que durante todo o tempo chamou-o de ‘suspeito’…
No dia seguinte, um sujeito armado invadiu um minimercado de bairro. Desses bem simples, gerenciado pela família. O dono, já cansado de tantos assaltos, roubos e humilhações, especialmente aos seus clientes, reagiu e matou o assaltante com três tiros. Assumiu o ato, entregando-se à justiça no dia seguinte. Ou seja, se ele matou uma pessoa, mesmo que em legítima defesa, acabou cometendo um crime. Quem comete um crime é um… criminoso. O foragido do sistema carcerário que citei no primeiro anterior, armado até os dentes, que entrou em confronto com a polícia foi tratado apenas como… um suspeito.
Saimos da farda e vamos para a toga: semana passada, um médico carioca foi flagrado pelas câmeras de um bloco cirúrgico estuprando uma mulher prestes a dar à luz. Seus advogados estão debruçados sob recursos para que a justiça ignore esse fato; enquanto buscam elementos para que seu cliente possa processar o hospital e o grupo de enfermeiras que posicionou as câmeras da “operação flagrante” alegando exposição pública da sua imagem sem consentimento.
Numa democracia, o poder pertence aos cidadãos e não a uma minoria autoritária. A conduta ética – além de conservar os dentes – valoriza a regularização do mercado e aumenta as possibilidades de emprego para bons profissionais. Por consequência, eleva a qualidade da informação servindo aos objetivos de uma sociedade verdadeiramente justa, que é um dos sonhos da raça humana.
Daniel Andriotti
Publicado em 29/7/22