Oiga tchê, oigalê tchê!!!
Antes, dizíamos aqui por esses pagos: “Corre as varas da porteira, vem chegando a Reculuta”. Para quem não lembra ou não sabe, Reculuta da Canção Crioula foi um dos maiores – e melhores – festivais do período mais efervescente do nativismo gaúcho, entre 1983 e 2013. Opa!!! Mas e onde era realizada essa tal de Reculuta??? Em Guaíba, caros leitores!!! Só que essa é uma outra, longa e saudosa história…
O que vem chegando ligeiro feito cavalo de parteira nesse lusco-fusco de aurora é a semana mais esperada por gaúchos e gaúchas de todas as querências. Está na hora dos macanudos e das tiangaças colocarem o pé no estribo do bagualismo. Hora da lábia caborteira, do surungo, de soltar o cabresto, de ir à la cria, dos qüera deixar o bolicho à meia guampa, floreado, quase borracho, aos ‘trancos’, depois de golear uma cajibrina buenacha, cuidando para não cair n’alguma arapuca, antes que ‘os caudilho apareça’.
É hora de reculutar os tauras, os cupincha, os cutuba e os vivente para a charla, pro chasque. Aos poucos, eles vão chegando em seus maturrangos, cuiudos, ruanos ou lobunos e vão se aboletando no arranchamento. Tudo isso antes que a côsa enverede prum bochincho e a erva fique lavada. Não tem pilcha ou chiripá? Vai de fatiota… Entra juca e sai manduca. O que importa é estar no meio do entrevêro…
Se você não entendeu quase nada do que está escrito acima, melhor não se ‘meter de pato a ganso’ num dos 497 acampamentos crioulos espalhados por esse continente de São Pedro a partir dos próximos dias. Sentiu-se um marreco no galinheiro? Notou que ovelha não é pra mato? Seu lugar é além do Mampituba. De Torres para cima. Mas, caso você tenha entendido só a metade ou ‘alguma coisita’, muito vagamente… talvez seja enquadrado como um ‘ser de apartamento’, praticamente um urbanoide do tipo “Nutella”. É possível que mal saiba diferenciar um cavalo de uma ovelha. Toma ‘chimas’ (porque pensa que mate é doce) mal-cevado numa cuia Stanley, veste bombacha ‘skinny’, alpargata com rendinha, camiseta justinha no peitoral escrito “I’m from the South”; e ao invés de pedir um assado de tiras prefere dizer ‘um churras ao ponto’, melhor não ir. Poderá correr o risco de levar um talonaço de adaga (que se me pega, me estraga) num acampamento farrapo…
É evidente que para escrever isso tudo tive que recorrer ao ‘amadrinhamento’ de um Dicionário Gaudério, também conhecido como ‘amansa o burro do pampa’. Se você entendeu claramente e dominou ‘de cabo a rabo’ todas aquelas mal traçadas linhas dos primeiros parágrafos, você está buenacho para abrir a cancha reta deste campo de lei que é a Semana Farroupilha…
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“Homem de pouca fé”, dizem meus amigos colorados ao me verem vibrando baixinho, constrangido e (des) confiando do Inter na Copa Libertadores desse ano. Ganhar mundial com um time mais fraco eu já vi e já vivi, em 2006, porque lá eram apenas dois jogos. Mesmo que – naquela ocasião – um dos times envolvidos era o poderoso Barcelona treinado pelo holandês Frank Rijkaard e que tinha nada mais, nada menos que Valdez, Puyol, Xavi, Iniesta, Deco e o melhor de todos, Ronaldinho Gaúcho. Mas ganhar Libertadores, mata-mata lá e aqui, com o mesmo time que flerta com a zona do rebaixamento do Campeonato Brasileiro… só se vai ser esse ano. No entanto… tenho visto coisa feia e tenho visto judiaria. E o pior: no creo en las brujas, pero que las hay, las hay…
Daniel Andriotti
Publicado em 1/9/23