Entramos na Cidade pela Avenida Nestor de Moura Jardim. No lado esquerdo da via, um imenso campo, no direito, alguns prédios. A atmosfera interiorana se manifestava em cada metro da pequena cidade, apesar da proximidade com a Capital. Da atmosfera alegre dos balneários da infância, surgiam lembranças naquele inverno de 1978.
Em frente à Madeireira Ouro Verde, eu e duas colegas perguntamos a uma senhora, que caminhava sem pressa, onde ficava a maior escola da cidade. Eu era um jovem idealista de 18 anos, e as professoras Nair Kurylo e Elisabeth Schaurish, alguns anos mais velhas, jovens senhoras casadas. Estávamos iniciando uma sociedade, o Curso de Inglês Know-How, e procurávamos um local para abrir a nossa escola. Tínhamos nos informado que em Guaíba não havia qualquer instituição para o ensino da língua inglesa. Nossa intenção era iniciar o trabalho na cidadezinha do outro lado do rio.
Morávamos na Capital, portanto, não seria preciso nos mudarmos, poderíamos nos deslocar de ônibus ou de carro, considerando que a distância que nos separava de casa era de aproximadamente 40 quilômetros.
Nossa expectativa era grande em relação à recepção que teríamos. Tudo o que eu sabia de Guaíba estava relacionado com a minha infância. Domingos quentes de verão e piqueniques com a família nas praias da Alegria e da Florida evocavam dias felizes.
As imagens dos banhos de rio com a minha irmã Susana e meu irmão Noni passavam como filme antigo pela minha cabeça na medida em que seguíamos em direção ao Centro. Me flagrei sorrindo, lembrando da minha bela mãe, Alda, sentada sobre a toalha xadrez branca e vermelha, organizando o acampamento, e meu pai, Sady, com calção amarrado acima do umbigo, nos observando na água feito um atento salva-vidas.
A meta naquele dia frio era chegar na Escola Normal Gomes Jardim, conforme orientações que havíamos recebido de moradores pelo caminho.
— É aqui! Disse para Elisabeth, que estacionou seu Chevette 1976, de cor bege e em perfeito estado de conservação.
— Gostaríamos de falar com a diretora. Anunciou a Nair, com leve sorriso no rosto, que denunciava a sua profissão de professora. Uma mulher pequena, cabelos crespos, pele bronzeada e rosto redondo nos olhou de cima a baixo em três segundos.
— Vocês marcaram hora? Perguntou a baixinha curiosa.
— Não, somos professores de Porto Alegre, estamos implantando uma escola de inglês em Guaíba e gostaríamos de falar com a diretora, se for possível. Esclareceu a Nair.
A mulher voltou a nos observar de cima a baixo, com a testa enrugada.
— Só um momento. Disse, apressando o passo em direção ao interior da Escola.
Dois minutos mais tarde, surgiu de uma porta marrom a diretora Graciana Uranga. Uma mulher pequena, de pele morena e sorriso aberto. Se apresentou e nos deu boas-vindas, convidando para irmos a sua sala. Aquela era, sem dúvida, uma das mulheres mais simpáticas que eu já tinha conhecido na vida. A recepção calorosa nos animou.
A mulher miúda e curiosa que nos atendeu primeiro voltou à cena com uma bandeja cheia de xícaras de café. Uma tarefa solicitada pela simpática diretora. Após distribuir as xícaras, a baixinha posicionou-se estrategicamente em um canto da sala, pronta para escutar a conversa. Percebi a curiosidade saltando de seu rosto redondinho, mas a diretora agradeceu gentilmente e dispensou a funcionária, que saiu nitidamente frustrada.
O texto acima foi extraído do livro Guaíba-Outra Margem, que publiquei em 2018. Estou morando há 45 anos em Guaíba; me sinto membro desta comunidade, ligado para sempre. Muitas coisas mudaram em quatro décadas e meia, houve avanços, mas percebo que, em geral, o sentimento de pertencimento ainda é uma falha a ser superada.
Câmeras nas Escolas
Na semana passada, a Gazeta Centro-Sul trouxe uma reportagem sobre a instalação de câmeras de monitoramento em todas as escolas da cidade de Butiá. Sugeri aqui na Coluna que servisse de exemplo para Guaíba e demais municípios da Região.
Essa semana, o vereador Manoel Eletricista lembrou que existe Lei Municipal em Guaíba para a instalação de câmeras nas escolas desde 2018. Resumo da bufa: Lei tem, não têm câmeras.
Concurso Público e o Verbo
Recebi informação de que alguns candidatos que participam do concurso público da Prefeitura de Guaíba (SME) estão reivindicando mudanças na avaliação e questionando supostas irregularidades na aplicação das provas. Foi marcada até reunião na Câmara Municipal. Entendo que todos os questionamentos devem ser devidamente esclarecidos. Entretanto, há um verbo chave quando se trata de concurso público: estudar.
O Prefeito Maranata
Falo com pessoas que amam o Prefeito Maranata e com outras que não gostam nada do prefeito, xingam o Maranata. Ainda não consegui apurar o percentual dos que amam e dos que não gostam do prefeito. Uma coisa eu já captei, seu comportamento expansivo provoca emoções pra lá e pra cá.
Leandro André
leandro.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 14/7/23