Bons tempos aqueles, quando esta cidade acontecia pequena e tranquila, à beira das águas que a geografia da época chamava de rio, e chegamos para adotá-la como nossa. Aos sete anos, tornei-me guaibense de coração, e serei sempre grata pela dupla cidadania que a vida me concedeu. Confesso que, com o tempo, fui descobrindo que Guaíba, definitivamente, é o meu lugar no mundo.
A cidade, hoje, está bem maior, mais movimentada, já não se conhece todas as pessoas que andam pelas ruas centrais. São muitas as escolas, os edifícios; há lojas e mercados grandiosos, hotel de rede internacional. E as nossas águas, marca registrada que nos engrandece com certificado da Natureza, não atende mais por rio. Agora é lago, porque a geografia também mudou.
Daqueles dias de infância e juventude aconchegantes, feitas de conversas presenciais e boas maneiras, de crianças abrindo presentes de aniversário e jovens sonhando com reuniões dançantes, ficaram extraordinárias lembranças. Aprendizados feitos em cenários de simplicidade.
Do Grupo Escolar Gomes Jardim, onde estudei até a quarta série primária; morando bem pertinho, costumava ir e voltar sozinha, caminhando. Do Ginásio Cônego Scherer, escola em que fui aluna em uma das primeiras turmas, o prédio ainda em construção. No retorno à casa, depois das aulas, voltávamos cantando sucessos nacionais em dueto, eu e uma colega.
Lembro-me, sobretudo, da importância dos feriadões de cada outubro na vida dos estudantes e trabalhadores guaibenses. Naqueles dias sem shoppings, de fins de semana e feriados com lojas fechadas, muita gente esperava pelo dia 14, do nosso feriado municipal, mas com lojas abertas na Capital. Para os estudantes locais, presente a ser comprado para a professora, pelo dia 15.
Jovens e adultos se preparavam para o melhor dos acontecimentos sociais, sempre no dia 13, entre dois feriados: o Baile do Impacto. Era o melhor conjunto musical que havia no Estado, colocava todo mundo para dançar até o amanhecer de mais um dia, o de celebrar a cidade emancipada.
Bons tempos aqueles, quando esta cidade acontecia pequena e tranquila, à beira das águas que a geografia da época chamava de rio. Agora, atendem por lago, mudanças da geografia; as ruas são movimentadas, há prédios em construção por toda parte. Somos cerca de cem mil, mas ainda encontro o que havia de bom nesta terra.
Com o tempo, meu encantamento com essa cidade se confirmou. Guaíba, definitivamente, é o meu lugar no mundo. É onde eu moro e sou feliz, para onde sempre quero voltar.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 14/10/22