Geração de Otários

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‘Cringe’ é a palavra da moda em meio a uma pandemia que insiste em não nos deixar. Trata-se de uma gíria americana utilizada para criticar comportamentos de pessoas de gerações anteriores. Traduzindo: gente velha que, com atitudes ultrapassadas, provocam vergonha alheia. Tal comportamento faz os filhos sentirem um certo constrangimento dos pais ou de qualquer outro “tio” que esteja agindo de maneira, digamos, antiquada.

Pois bem, sob esta ótica me considero um “cringe” em quase tudo que eu faço, a começar por este texto que, para algum millennial – ou geração Y – pode ter cheiro de mofo. Millennial, para quem não está familiarizado, é aquela ‘safra’ nascida entre os anos 80 e 90 e só respira ambientes altamente urbanizados, conectados e globalizados. É a turma que presenciou uma das maiores revoluções da história da humanidade: a internet.

Já a geração Z… que nasceu pós-metade dos anos 90, entende que os millennials já são cringe. A geração Z está muito à frente do nosso tempo. Seus integrantes não se convencem que alguém conseguiu viver sem o Google e, por isso, estão literalmente sempre a um ‘clique’ de obter a mais remota informação disponível ou esclarecer alguma dúvida sobre qualquer assunto, a qualquer hora e em qualquer lugar. Desde que, é claro, algum cringe tenha instalado uma rede wi-fi antes dele nascer.

Mas como saber se você é um cringe? Existe um ‘quiz’ com questões básicas que não tem erro (aliás, ‘quiz’ é uma palavra cringe):

– a primeira é logo que você acorda de manhã. Toma café? Sentado? Numa mesa com pão e manteiga?

– a segunda: você paga boletos??? Ou pelo menos fala a palavra boleto???

– terceira: já tomou cerveja de ‘litrão’?

Se até aqui você respondeu ‘sim’ para – pelo menos – duas das três questões… penso que não vai ter jeito de lhe tirar desta cilada. Agora mais algumas para fechar a tampa do caixão: entende que a calça skinny não fica bem nas pessoas? Ah, você não sabe o que é uma calça skinny? E usa ‘emojis’ próprios para se comunicar no WattsApp? Ou você não sabe o que é emojis? Tem Facebook? Quando quer demonstrar que achou alguma coisa engraçada nas redes sociais escreve ‘kkkkkk’, ‘ahahaha’ ou simplesmente ‘risos’? Até aqui existe algum tipo de salvação mesmo sendo uma vergonha alheia para millennials e “Zês”. Mas, agora só falta dizer que você não se sente muito familiarizado com os ‘stories’ do Instagram e com o Tik Tok? Parabéns, saudosista. Seja muito bem-vindo ao meu, ao seu, ao nosso universo cringe!!!

 

* * *

Também em meio à pandemia discute-se, no Brasil, a guerra do ‘voto impresso’ como uma questão fundamental para 2022. Eu sou um defensor do voto impresso porque gosto daquilo que pode ser ‘conferível’ manualmente e, portanto, auditável. Coisas de gente cringe, né? Isso porque ‘no creo en brujas, pero que las hay, las hay’. E também porque países muito mais sérios e desenvolvidos que o nosso não abrem mão do papelzinho nas eleições, como Japão e Estados Unidos, só para citar dois exemplos.

Há quem não goste do voto impresso simplesmente porque Bolsonaro o defende. Os amigos com quem converso – e alguns entendem não haver necessidade deste retrocesso – não conseguem argumentos para me convencerem que a urna eletrônica brasileira é 100% confiável. Outro dia alguém mais radical me disse: “se a esquerda e o STF defendem o voto unicamente eletrônico, melhor investigar…”

Nesse mesmo país onde 14,5 milhões de famílias vivem abaixo da linha da miséria, sem teto e sem ter o que comer, tramita a aprovação de um fundo especial de financiamento de campanha no valor de R$ 5,7 bilhões, dinheiro público para custear a campanha do político que vai prejudicar a nossa vida nos próximos quatro anos. E sabe quem tem direito ao voto? Todos aqueles que irão se beneficiar dessa decisão.

Chorem cringes, millennials, geração Y, K, W, Z… somos todos otários de uma mesma plataforma.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 23/7/21.

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