Parece que foi ontem, mas já se passaram décadas desde que comecei a entender que existiam regras de comportamento que jamais deveriam ser burladas. Para o bem de todas as pessoas e o meu próprio.
Assim sendo, logo que me conheci por gente, aprendi que estavam fora de cogitação atitudes como a de retrucar falas paternas ou maternas, desrespeitar gente mais velha, tratar quem quer que seja com ares de superioridade, zombar de colegas ou amigos, colocando-lhes apelidos.
A mim mesma, jamais deveria permitir julgamentos de outras pessoas, seria falta de humanidade dar a insensata licença para fazê-lo com base em sua aparência ou religião, em seu partido político ou no time pelo qual torce, na sua conta bancária ou nos livros que leu. Por uma simples e verdadeira razão: somos todos passageiros nessa mesma viagem, cada um carregando frágil coração, sentindo tristezas e alegrias, individuais e coletivas. E é desse jeito que certamente seguiremos, juntos e misturados, neste lugar que nos coube.
Espalhados por praias e montanhas, em vilarejos e metrópoles, morando em casas espaçosas e pequenos barracos, estaremos acompanhados por andarilhos e preguiçosos, gordos e magros, atentos e distraídos, atenciosos e desligados de tudo, bondosos e pouco sensíveis, crentes e ateus, ricos e pobres, sorridentes e carrancudos, educados e agressivos. Convivendo com recém-chegados e gente de partida.
Parece que foi ontem, mas já se passaram décadas desde que comecei a aprender sobre regras de comportamento que jamais poderiam ser burladas. Para o bem de todos e o meu próprio.
O tempo foi acontecendo, e aquelas orientações recebidas na infância e na adolescência, em casa e na escola, apoiadas pela observação do mundo, cresceram em compreensão e valor diante de mim. Eis que me fizeram entender o real significado de uma educação norteada por limites e solidariedade.
Hoje, tenho certeza de que, haja o que houver, nosso destino de convivência já foi traçado, seremos para sempre gente de todo jeito, nas rezas e nas danças, no amor e na arrogância, humanitários e violentos, habitando corpos de tempos, cores e tamanhos diversos.
E, em breve, não haverá mais lugar para aqueles que se negarem a entender pelo menos isso.
* Texto publicado em 2014.
A colunista Cristina André está de férias.