Adoro futebol, mesmo que a ideia de jogar bola com os pés nunca tenha me passado pela cabeça. O meu gostar, na verdade, é misto de admiração e respeito pela extraordinária capacidade que esse esporte tem de se conectar com as pessoas em geral, de reunir multidões, de divertir e ensinar a importância da disciplina na realização de um trabalho bem-feito.
Do Monte Caburaí, em Roraima, ao Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul; e da nascente do Rio Moa, no Acre, à Ponta do Seixas, na Paraíba, nesta nação chamada Brasil, há uma única unanimidade: o futebol. É assunto que rende boas conversas com gente de todas as regiões brasileiras, independente de idade e sexo, de situação financeira e estado civil, de religião e grau de instrução, de esquerda ou conservador.
Seja no táxi ou no almoço em família, na festa de formatura ou de casamento, no salão de beleza ou na fruteira, nas salas de aula do colégio ou da universidade, em todo lugar o tema tem extraordinária capacidade de aproximar pessoas. Vai além da diversão e das torcidas apaixonadas, ultrapassa fronteiras de grandes estádios e de campinhos improvisados, propiciando aprendizados de maneira por demais interessante.
Somos, realmente, um país que adora o futebol. E quando conseguirmos aproveitar esse sentimento, que é comum de Norte a Sul, de Leste a Oeste, em prol da educação, certamente haveremos de melhorar, e muito, como sociedade.
Eu, mesma, transformei minha rotina de professora prestando atenção neste esporte, nas consequências pelas faltas cometidas, no cumprimento das suas regras, no respeito ao adversário e às diferenças; na necessária aceitação das derrotas, nas mudanças positivas para seguir em frente e buscar outras vitórias.
Foi assistindo uma partida de futebol, certa vez, que as palavras do comentarista esportivo, no intervalo, me provocaram surpreendente reflexão sobre a forma como eu conduzia a avaliação dos meus alunos. Enquanto o “speaker” chamava a atenção para os pontos negativos do sistema “mata-mata” daquele campeonato, imediatamente me reportei às provas aplicadas nas minhas turmas. Eram duas, cada uma valendo cinco; a soma delas dava a nota final do bimestre.
E naquele jogo, acreditando ser apenas uma torcedora, percebi que, ao avaliar os estudantes, estava cometendo o mesmo equívoco a que o comentarista esportivo se referia, o tal “mata-mata”, dificultando uma possível recuperação. Dali em diante, mudei a maneira de avaliar meus alunos, as provas passaram a ser três por bimestre, cada uma valendo cinco; a soma das duas melhores resultaria na nota final. Terminei com o “mata-mata” e todos saíram ganhando em aproveitamento e interesse pelos estudos.
Do Caburaí ao Chuí, do Rio Moa à Ponta do Seixas, que são os pontos extremos desta nação chamada Brasil, há uma única unanimidade: o futebol. E, para o bem do País, esse gosto nacional precisa ser melhor aproveitado como aprendizado para todos.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 21/7/23