Flores Naturais

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Havia flores naturais no vaso que ficava sobre a mesinha da sala. Eram trocadas aos sábados, para alegria geral da família e destacada felicidade materna, em ritual que me fez discípula convicta. Minha Mãe tinha razão quando dizia que as flores são como os afetos, dão maior significado à vida. Encantadora e emocionante conexão com a Natureza, eu completaria.

Eis que chegou a Primavera, anunciando que a vida ainda tem lugar reservado para cores e fragrâncias. Em breve, campos de girassóis estarão nas telas vazias que esperavam por seus pintores, bocas-de-leão em pequenos canteiros, flores do campo em vasos enfeitando casas.

Neste tempo da rainha das estações, ares de felicidade têm perfume de rosas de diversas cores. Retornam as declarações de amor, reaparecem as delicadezas presenteadas, plantio se fartando de Sol.

E como são lindos os buquês de gérberas, tom sobre tom, com discretos galhos verdes em parceria nos vasos, para enfeitar, como se não bastasse o festival de pétalas que apresentam.

Acalmando orquídeas, o vento é mais tranquilo, raios dourados de luz, enviadas pelo astro rei, vão perdendo a pressa, se demorando para aumentar os dias pouco a pouco. Flores a promover esperadas reconciliações.

Ipês se vestem de cores vivas, traje de gala para inspirar poetas, cenários mais do perfeitos para romanistas de finais felizes. As chuvas, antes desordenadas, são bem-vindos regadores divinos, alegria de margaridas e brincos-de-princesa, de copos-de-leite e crisântemos.

Na mesinha de canto, o vaso solitário recebe a tão esperada tulipa, mensageira da retomada do afeto em romance que se complicou. Na janela da cozinha, violetas fazem morada, colorindo o universo dos temperos-verdes.

É Primavera, então a vida ganha em contentamento. Desde a infância, me acostumei com as hortênsias plantadas no pequeno jardim lá de casa, as flores naturais no vaso da sala. Me alegrava a destacada felicidade materna que elas provocavam.

Minha Mãe dizia que as flores são como os afetos, dão maior significado à vida. Ela sempre tinha razão.

 

Cristina André

cristina.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 23/9/22

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