No fundo no fundo, o que realmente muda entre um final de ano e o início de outro é a folhinha do calendário. Isso porque ao levantar da cama e acender a luz na manhã do dia 2 de janeiro, você estará pagando, em taxas e tributos, 40,28% pela energia elétrica que acabou de acionar; outros 37,4% por ter ligado a torneira da pia para lavar o rosto e 18% no creme dental que usou para escovar os dentes. Ah, e 13,3% quando comprou a escova.
Daí você vai tomar o café da manhã (16,52%), coloca açúcar ou adoçante (22%) e come um pãozinho (16,25%). Passou manteiga? 36%. Queijo? 13%. Mortadela? 18%. Se prepara para ir ao trabalho: veste uma roupa (34%) e pega a chave do carro (esse sim, se for um modelo nacional, em média, 44%). Mas lembrou que antes de sair, precisa fazer uma ligação no celular: 40,2% na chamada e 37,5% quando comprou o aparelho. Enquanto fala ao telefone, olha para o painel do carro e vê que o tanque está na reserva: 70% no total de combustível vai para os cofres públicos. Mesmo que seja etanol, cujo Brasil foi o pioneiro nesse biocombustível, a partir da cana: paga igual. Aliás, se no final do dia você der uma ‘bicada’ na outra cana, o governo brinda com você com 19%…
E, mesmo assim, por ser brasileiro, somos um povo motivado. Motivado porque todos esses percentuais que pagamos para os cofres públicos antes mesmo de sair de casa será retribuído com a mais alta e mais desonesta taxa de juros do mundo; com pedágios caríssimos na relação por trecho percorrido em estradas malconservadas; com os automóveis mais caros do mercado (e até por isso, o imposto embutido nele equivale à metade do seu valor. No Brasil, você compra um carro e paga dois. Um é o seu e o outro é do governo).
Tem mais: pagamos pelo combustível fóssil mais caro do mundo (e nesse caso, o governo nos cobra um percentual sobre um produto que só ele pode fornecer). Financiamos também uma produção de energia elétrica autossustentável; patrocinamos a pior e mais cara telefonia celular do universo; tudo isso endossado pelo quadro político mais caro e mais corrupto do mundo, de um país que é o sétimo em número de desempregados num ranking de 51 nações. E talvez o pior de todos: se você tem um emprego, você paga um imposto a esse mesmo governo pelo simples fato de você ter um salário. A classe política brasileira não se contenta com o fato de você ganhar o seu próprio dinheiro, com o suor do seu rosto, sem que ela leve uma boa fatia sem lhe oferecer nada em troca…
Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostra que, dentre 30 países pesquisados, o Brasil é que oferece o pior retorno em benefícios à população dos valores arrecadados por meio dos impostos. O levantamento avaliou países com as maiores cargas tributárias do mundo, relacionando estes dados ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada nação. O resultado é expresso no Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (IRBES). O Brasil lidera o ranking dessa esdrúxula relação custo X benefício porque nossa carga tributária é de 35,13% em relação a tudo que produzimos. Como se não bastasse nosso IDH é de 0,718 e, por consequência, nosso IRBES é de 135,83. Na outra ponta está a Noruega, um país menor é verdade. E com uma carga tributária maior que a do Brasil: 42,80% do PIB. A diferença está na contrapartida: o IDH dos noruegueses é de 0,943 e o retorno de bem-estar à sociedade é de 145,94. Uma diferença brutal…
Até quando???
Daniel Andriotti
Publicado em 3/1/24