Fantasmas, Código 171

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Existem programas de TV que tem o dom de iludir quem está do lado de cá da telinha. É lógico que só assiste quem quer. Eu, por exemplo, sou uma dessas pessoas. Isso vale para filmes, mas também para o futebol – no final desse texto, caro leitor, você vai entender onde eu quero chegar…

Meus preferidos são os programas de caça-fantasmas e de monstros do pântano. Chega a ser impressionante como alguns canais conseguem manter por anos a fio roteiros baseados apenas numa busca incessante, de pura especulação e sensacionalismo. Detalhe: em nenhum deles, os caçadores conseguem ver – e muito menos filmar – suas “caças”.

Há uma produção norte-americana, onde um grupo de pessoas criou uma empresa especializada em pesquisar locais mal-assombrados. Além de um grande senso de persuasão, eles dispõem de sofisticados equipamentos para gravação de áudios e imagens na mais absoluta escuridão. Tudo reunido numa van tipo aquela do Scooby Doo. Por mais de hora, eles prendem a atenção de telespectadores ingênuos com um roteiro que vai desde o ‘agendamento’ para o acesso à casa mal-assombrada até o desfecho final, passando pelo posicionamento estratégico das câmeras e microfones associados à um amplo teatro sob a mais absoluta tensão e suspense. Nos últimos cinco minutos descobre-se que os ruídos são de uma janela que bateu com o vento ou um de gato que miava assustado no porão. A sombra era apenas um pássaro no telhado. Fantasma que é bom, nada. Nunca!!!

Não satisfeito, fui descobrindo outros como o patético “Monstros do Rio”. Seriam supostos monstrengos como o indigesto Homem Mariposa ou uma fera horrenda que habita pântanos e que destroça suas vítimas. Neblina, visibilidade baixa, lamaçal, galhos e árvores quebradas fazem parte da produção. Tem outra farsa: uma ilha habitada por seres misteriosos. Nela, um navio naufragado cujo porão é um mistério mas que ‘pode estar’ cheio de tesouros. De concreto, que é bom, nada. E por aí caminha a enganação…

Qualquer um desses programas jamais mostrou aquilo que todo mundo quer ver. Atrações como “Monstros da Montanha” e “Monstros do Pântano”, por exemplo, são baseadas em puro sensacionalismo. Pior que tudo isso, somente as falas e expressões mediocremente dubladas, na tentativa de demonstrar um pânico que não existe nas pessoas que “caçam” as assombrações. São tantos “oh meu Deus!!!”, “eles estiveram aqui há bem pouco tempo!!!”, “que coisa incrível!!!”, “não acredito!!!”, “eles estão nos observando!!!”, que chega a ser ridículo de tão fictício.

Não duvido da existência de seres misteriosos, fantasmas, monstrengos e muito menos de tesouros ocultos. Meu sonho é apenas vê-los na TV. Só isso…

 

* * *

Agora a outra falcatrua: a do futebol. O Inter está tentando me iludir, mais uma vez. Mas, diferente dos programas de monstros e fantasmas, nessa eu não caio mais. No sábado à tarde – eu estava no Beira Rio e ninguém me contou – quando o time perdeu para o Fortaleza demonstrando uma limitação que converge com todos os caminhos que levam à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. No entanto, 48 horas depois, a 3.600 metros de altitude, derrota uma equipe que não perdia para times brasileiros em casa há muito tempo (a história registra que até a última terça-feira, o Bolívar teve 16 jogos contra equipes brasileiras em La Paz, sendo 10 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas, para Grêmio e Palmeiras).

Me engana que eu gosto, colorado. Fantasma, nesse caso, só o do rebaixamento…

 

Daniel Andriotti

Publicado em 25/8/23

 

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