Costumo ressaltar que Guaíba é uma cidade com localização privilegiada, tem uma orla deslumbrante, mas falta identidade política como mecanismo de orientação (não me refiro à política partidária). Esta conclusão está no contexto de uma observação ampla, que transcende governos.
Ao longo do tempo, perdemos o alinhamento com o conjunto das qualidades e das características que tornam possível a identificação do Município. Isso está explícito na vulnerabilidade das realizações, sejam materiais ou imateriais. Vamos lá!
Coisas que foram apagadas do mapa: cinema; mercado público; chafariz (dois); Pavilhão Canadá no IEE Gomes Jardim; Píer da Beira (interditado); Hospital Livramento; hotéis na Zona Sul; e pelo menos duas dezenas de prédios históricos, uns já demolidos e outros se deteriorando.
Das questões imateriais que sucumbiram: Reculuta da Canção Crioula, Festa à Fantasia, Expofeira Centro-Sul, Programa de Educação Ambiental Plantando Ecologia, Festival de Música Estudantil, Brick da Beira, e festivais de bandas, entre outros.
Em relação aos nomes, que traduzem a identidade de um espaço público: o Hospital Regional já teve dois nomes em menos de um ano; o Plenário da Câmara mudou de nome, assim como a Praça Central. As ruas sequer são identificadas.
A esculhambação se materializa no modus operandi da CEEE e da Corsan, basta ver o estado da fiação nos postes e da pavimentação nas ruas. A CEEE, que agora se chama Equatorial, anunciou uma “higienização da rede”, mas pelo visto está longe de acontecer.
As obras públicas são mal-acabadas; calçadas tortas, desniveladas, sem ajardinamento. A iluminação passa por um sistema de gambiarra e acaba em penumbra. Os equipamentos públicos não recebem manutenção adequada: reparem os bancos do Calçadão da Beira.
Projetos e programas não têm identidade e, consequentemente, não têm continuidade: mudam a cada governo de acordo com a “explosão de ideias do gestor”. Já foi anunciada concha acústica na Praça Gastão Leão, que já foi Praça da Bandeira; a pintura do prédio da Biblioteca Pública mistura imagens numa vertigem psicodélica; a revitalização do prédio do ex-mercado público nunca foi concluída, porque os diferentes projetos não consideraram a realidade e muito menos a história. Só para lembrar, o primeiro projeto de revitalização previa a instalação de uma pirâmide de ferro no telhado, o que dispensa comentários.
Apesar de o Governo do Estado ser dono da maior parte das áreas públicas da Cidade, foi doada uma praça no Bairro Colina para a instalação do novo quartel do Corpo de Bombeiros, o que evidentemente não deu certo.
O Plano Diretor da Cidade foi feito basicamente por uma profissional de fora do Município, sem participação efetiva da sociedade local, resultando numa regulamentação desequilibrada; um monumento à omissão.
A revisão do Plano Diretor, uma imposição legal que deveria ter acontecido há cinco anos, segue patinando na Prefeitura.
Uma Unidade de Conservação foi criada no Morro José Lutezenberger, que já foi Morro da Hidráulica, para a implantação de um parque ecológico, com recursos já reservados de medidas compensatórias da CMPC, mas nunca foi implantado. Também patina na Prefeitura.
O terreno no entorno da Estação Hidroviária não é regularizado, porque, adivinha, o processo de regularização patina na Prefeitura há anos.
A Ilha Pedras Brancas foi entregue ao município de Guaíba para execução de um projeto turístico-cultural que nunca saiu do papel.
Um píer foi implantado na Beira (Orla Central da Cidade) para incentivar o turismo, mas está interditado há cinco anos, porque foi malfeito e pode desabar; a sua revitalização dorme no fundo de uma gaveta na Prefeitura.
O Arroio Passo Fundo, maior passivo ambiental do Município, tem dia, atos de abraço comunitário, debates técnicos e filosóficos e legislação específica, mas a cada ano fica mais poluído.
Alguém pode pensar que estou exagerando ao fazer estas observações, mas, infelizmente, não estou exagerando, é a realidade associada à falta de identidade política referida no início desta coluna.
A intenção aqui é contribuir para resgatarmos a identidade da Cidade, que se destaca pela localização privilegiada, por ter sido importante cenário histórico e por seu potencial de desenvolvimento turístico e cultural. Para isso, é fundamental assumirmos as falhas e superá-las, construindo um plano alinhado ao conjunto das qualidades e das características que identificam o Município.
Quem se interessa por Guaíba precisa refletir sobre isso.
Modelo do Hospital
A Prefeitura de Guaíba apresentou proposta para a continuidade do Hospital Regional de Guaíba. É importante a comunidade entender o que está acontecendo. Ver matéria ao lado.
Só abre depois de fechar
De acordo com o secretário de Infraestrutura de Guaíba, Ivan Barcelos, foi firmado um pacto entre Prefeitura e Corsan. Até o final deste ano (31/12), todos os buracos abertos pela Companhia deverão ser fechados. Além disso, a partir de agora, a Corsan somente poderá abrir novos buracos depois de fechar e pavimentar os que abriu. Demorou. Vamos acompanhar para ver se é isso mesmo que vai acontecer.
Eleição no SPMG
O processo eleitoral no Sindicato dos Professores Municipais de Guaíba (SPMG) foi anulado devido a irregularidades. Foi aberto prazo de 90 dias para novo pleito. Frisson nos bastidores.
Leandro André
leandro.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 10/12/21.