Brasileiro não tem um dia sequer de paz. Antes, na virada do ano, era só vestir uma roupa branca, pular sete ondinhas do mar e curtir as férias esperando o Carnaval. Um evento que, em tese, duraria quatro dias. Aqui né? Na Bahia dura quatro meses. Pois já vamos para o segundo ano consecutivo em que foi tirado nosso maior exemplo de pão e circo. Culpa dos governantes??? Não. Dessa vez não. A culpa é de uma força muito superior à da maior escola de samba carioca. A Unidos do Corona vírus, que invade nossos corpos com sintomas alegóricos causando todo tipo de dano ao organismo por muito tempo. Isso, quando não nos exclui desse imenso sambódromo chamado vida. Basta respirar e pronto. E não dá para fazer carnaval sem respirar. Então, é melhor ficar em casa, certo?
Ficar em casa significa algumas – muitas – horas em frente da TV. E quem sabe disso melhor do que ninguém é a Rede Globo. Por isso, nessa época, ela enche uma casa de pessoas bonitas, outras nem tanto, brancas, pretas, gays, héteros, algumas pós-
graduadas, outras que não sabem sequer qual é a capital do Estado do Rio de Janeiro. Seus estressantes compromissos diários são: malhar, tomar banho de piscina, dormir, participar de provas de sorte ou de resistência que são muito mais merchandising do que qualquer outra coisa; beber muito e dançar nas festas. E nas horas vagas, gerar ou se defender das ‘tretas’ criadas naquele ambiente com a intenção de excluir os colegas do jogo na base das mais esdrúxulas estratégias, para a alegria das redes sociais, dos patrocinadores e da emissora, é claro.
Mesmo roteirizado, o BBB é, inegavelmente, uma forma de entretenimento. É uma opção de relaxar saboreando conflitos entre pessoas que, enquanto confinadas, criam problemas que não existiam até elas chegarem ali. Como a tradução literal de ‘reality show’ – programa de realidade – o BBB também serve para mostrar que a nossa verdadeira personalidade está ali, estampada naquele recorte da população representada por 20 seres humanos emocionalmente instáveis e imaturos, fúteis, egoístas, mas sempre festeiros. Pessoas reais em situações inusitadas. E, muito mais do que empatia entre o povo e a Rede Globo, lamento informar, leitores, mas sim, os ‘brothers’ são o nosso espelho. A vida é assim aqui do lado de fora da casa: ora manipulados, ora manipuladores ou apenas adaptando as circunstâncias com tudo aquilo de bom ou de ruim que acontece à nossa volta. Aqui fora também é prova do líder e paredão o tempo todo…
Mas existe vida fora do BBB: tem quem prefira matar seu precioso tempo com futebol, lutas, videogame, séries, filmes, sono… Ou, ‘num ato de desespero’ parte para aquele antigo método de alienação analógica: o cada vez mais raro e distante livro.
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Futebol e política muitas vezes andam de mãos dadas: durante a semana o Grêmio demitiu o técnico Vagner Mancini e trouxe Roger Machado, ex-lateral esquerdo de um período vencedor do imortal na década de 90. Roger, além de um ídolo tricolor, é um estudioso do futebol. Vem se preparando para treinar grandes times há algum tempo. Inclusive participando de cursos nos maiores clubes do futebol europeu.
Há pouco tempo, aqui mesmo no Grêmio, Roger havia montado um time, mas foi Renato Portaluppi quem ‘colheu’ bons resultados com ele. E durante a semana, quando o Grêmio anunciou Roger novamente, muitos torcedores torceram o nariz com a escolha, pois queriam Renato de volta. Isso significa que boa parte dos gremistas torcem para o Renato e não para o Grêmio. Parece a política tupiniquim: os fanáticos torcem para Lula ou para Bolsonaro. Nunca para o Brasil.
Daniel Andriotti
Publicado em 18/2/22