Esperando Sentado

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Existem alguns programas de TV a cabo, portanto pagos, que possuem o dom de iludir quem está do lado de cá da telinha. É lógico que só assiste quem quer. Eu, por exemplo, sou um deles. Meus preferidos são os de caçadores de fantasmas e de monstros do pântano, do rio ou das montanhas. Chega a ser impressionante como alguns canais conseguem manter por anos a fio programas baseados apenas em uma busca incessante, de pura especulação e sensacionalismo. Detalhe: em nenhum deles, os caçadores conseguem ver – e muito menos filmar – suas “caças”.

Outro dia escrevi sobre uma produção norte-americana, onde um grupo de pessoas criou uma empresa especializada em pesquisar e ir atrás de locais mal-assombrados. Eles possuem, além de um grande senso de persuasão, sofisticados equipamentos de alta sensibilidade para ruídos e gravação de imagens na mais absoluta escuridão. Tudo reunido numa van tipo a do Scooby Doo. Durante uma hora (ou mais), eles prendem a atenção de telespectadores ingênuos – olha eu aí de novo – com um roteiro que vai desde o ‘agendamento’ para acessarem a casa mal-assombrada até o desenredo final, passando pelo posicionamento estratégico dos equipamentos e todo um amplo teatro sob a mais absoluta tensão e suspense, simulando acontecimentos sobrenaturais. Nos últimos cinco minutos de programa começa o desfecho trágico: os ruídos são de uma janela que bateu pela força do vento ou um de gato que miava assustado no porão. A sombra era um pássaro no telhado. Fantasma que é bom, nada. Nunca!!!

Não satisfeito em ser enganado por toda essa gente, fui descobrindo outros programas, muito parecidos, chamados “Monstros do Pântano” e “Monstros do Rio”, do The History Channel. Os temas podem ser supostos monstrengos como o indigesto Homem Mariposa ou uma fera horrenda que habita pântanos e que destroça suas vítimas. O ‘ser exótico’ mais famoso deles é o “Sasquatch”, também conhecido por “Pé Grande”. Neblina, visibilidade baixa, lamaçal, galhos e árvores quebradas fazem parte do cenário. Tem um outro ainda que é uma ilha habitada por seres misteriosos. Pelo caminho, um navio naufragado cujo porão é um mistério, mas que ‘pode estar’ cheio de tesouros. De concreto, que é bom, nada. E por aí vai a enganação…

De novo: qualquer um desses programas jamais mostrou aquilo que todo mundo quer ver. Atrações como “Monstros da Montanha” (Discovery Theater) e “Monstros do Pântano”, por exemplo, são baseadas em puro sensacionalismo digno de tabloides. Já “A Maldição de Oak Island” (canal H2), “Naufrágio Milionário” (History) e, mais recentemente, o “Tesouro Visto do Espaço” (Discovery), trilham por outro caminho, embora até hoje o objeto de suas buscas seja tão sólido quanto o “Pé Grande” peludo. Pior que tudo isso, somente as falas e expressões mediocremente dubladas, na tentativa de demonstrar um pânico que não existe nas pessoas que “caçam” fantasmas e monstros. São tantos “oh meu Deus!!!”, “eles estiveram aqui há bem pouco tempo!!!”, “que coisa incrível!!!”, “não acredito!!!”, “eles estão nos observando!!!”, “pelas pegadas trata-se de um ser horroroso”…, que chega a ser ridículo de tão fictício.

Não duvido de forma alguma da existência de seres misteriosos, fantasmas, monstrengos e muito menos de tesouros ocultos. Meu sonho é apenas vê-los na TV.

Só isso…

 

* Coluna publicada originalmente em julho de 2019.

 

Daniel Andriotti

Publicado em 1/4/22

 

 

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