Esperando o Ciclone

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A carga de medo foi intensa. O vento de mais de 100 km/h chegaria tal hora, logo mudava a previsão e eu esperava olhando o rio, o céu, o celular e escutando notícias no rádio. Na vida real, um céu cinza, rajadas de vento e frio, mas nada de ciclone.

No celular, aquele show de notícias falsas, ilustradas com fotos de ciclones de outros lugares do planeta. Um homem postou vídeo do Lago Guaíba com ondinhas de nada, destacando ser imagem de um Guaíba nunca visto. Baita trovador!

Eu fazia simulações de fuga enquanto o terror era anunciado sem trégua. Uma imagem de satélite mostrava aquela espiral branca no oceano avançando sobre o continente.

Aulas foram suspensas, assim como várias atividades. Muitos correram para os supermercados a fim de comprar papel higiênico. Não sei por que, mas tem gente que no menor sinal de perigo corre para comprar papel higiênico. Eu pensava em comprar latas, sempre penso em estocar latas de alimentos quando um perigo é anunciado. Não cheguei a comprar, fiquei com medo de voar como folha enquanto voltava do super. Havia comida nos armários para alguns dias. Continuei trancado, esperando.

O vento derrubou uma árvore em um bairro de Porto Alegre e a repórter mostrou a planta tombada em tom dramático. Aquela seria uma amostra da tragédia que se aproximava. Um semáforo piscando também foi mostrado.

Eu buscava informações no rádio e só diziam que o ciclone estava em Mostardas. Passava um tempo e continuava em Mostardas. Sempre em Mostardas. Eu estive em Mostardas há pouco tempo (ver reportagem na contracapa desta edição) e pensava naquelas pessoas bacanas que conheci lá. “Por que este ciclone não sai de Mostardas?”, questionava, irritado.

Lembrei do ciclone bomba que varreu a metade da Cohab, em Guaíba, no dia 17 de janeiro deste ano. Os meteorologistas não viram antecipadamente. De repente, ele chegou e arrancou telhados, derrubou árvores e postes. Mas, desta vez, os meteorologistas viram o ciclone e o batizaram de Yakecan. Os alertas de perigo foram apresentados como um filme dos irmãos Coen. Diziam que era para procurarmos abrigo seguro quando o maldito chegasse, o que aumentou minha angústia, porque no meu prédio não tem subsolo; não tem abrigo subterrâneo na Aldeia. Então, aparafusei as janelas do apartamento e esperei o ciclone, que graças a Deus não chegou.

Teve vento e alguns lugares ficaram sem luz, mas não teve ciclone.

 

A Máquina de Assustar

Uma coisa é informar, outra é assustar. Na pandemia de Covid-19, ficamos muito assustados por tratar-se de uma doença desconhecia e mortal, de fácil contaminação. Então, mergulhamos em campanhas de prevenção, o que foi muito importante. Acontece que, lá pelas tantas, acabaram misturando a pandemia com disputa eleitoral. Neste contexto, aproveitando-se da dor de quem perdeu seus entes queridos, do receio e da fragilidade da população, entrou em operação uma máquina de gerar medo, movida a interesses econômicos e político-partidários. Sempre há interesses econômicos e políticos por trás de campanhas de massa.

Em relação à Covid-19, apesar da série de doses de vacinas já aplicadas, é prudente seguirmos vigilantes, pois o perigo ainda não passou. Mas começa a ficar esquisito o fato de indicarem a vacinação contínua; já estão indicando a quarta dose.

Enquanto isso, a máquina de assustar dispara alertas sobre Hepatite, Gripe, Dengue, Influenza Aviária, Sarampo, ciclone, bandidagem, aquecimento global, fake news, fanatismo, Lula, Bolsonaro, STF, Putin, guerra, terrorismo, ataques na internet, volta do AI5, Mensalão, Petrolão, e por aí vai. A máquina sugere que fiquemos em casa, assistindo tevê, comprando remédios e tudo mais pelo celular, saindo somente para se vacinar.

Sim, é importante ficarmos vigilantes para nos prevenirmos contra as mazelas do mundo, que sempre existiram e continuarão a existir. Viver neste mundo significa correr riscos, mas também significa a possibilidade de evolução. O ponto aqui é a interferência perigosa da máquina de assustar, que está a todo vapor.

 

Dois Dias Sem Luz

No início da semana, a CEEE Equatorial divulgou nota informando que se encontrava preparada para enfrentar os estragos do ciclone. Só que não. O ciclone passou longe de Guaíba, restando um vento forte, o suficiente para deixar moradores da Rua Piauí, no Bairro Coronel Nassuca, dois dias sem luz. É de cair os butiás dos bolsos! O que aconteceria se o ciclone chegasse conforme anunciado?

 

Candidatos(as) e Seus Assessores

Eu respeito as pessoas que se candidatam a cargos políticos, porque se expõem oferecendo seus serviços. É preciso coragem. Dito isso, ressalto que em períodos pré-eleitorais intensifico o filtro das publicações aqui na Coluna, tendo em vista que este espaço trata de política mas não faz campanha eleitoral. Sendo assim, visitas de cortesia de candidatos com suas assessorias risonhas, ações de bondade, homenagens múltiplas, doações de rancho para pobres e fotos com crianças no colo estão vetadas. Não adianta insistir.

 

Leandro André

leandro.andre.gazeta@gmail.com

Publicado em 20/5/22

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