Uma matéria publicada na última edição da Gazeta Centro-Sul me causou um misto de saudosismo e pesar: o que restou do Hospital Nossa Senhora do Livramento?
Eu nasci ali. Fui salvo naquele lugar algumas vezes quando criança pois sempre que as amígdalas inflamavam minha temperatura passava dos 40 graus. E como ciclo da vida, também ali meus avós partiram… ainda que idosos e doentes nas distantes décadas de 70 e 80.
Antes imponente, na parte alta e nobre da cidade, próximo da Igreja Matriz, do Cipreste Farroupilha, da casa de Gomes Jardim e da Escadaria do Inferno. Hoje, uma analogia cruel: o que restou do Hospital Livramento é apenas um espectro cadavérico. Literalmente.
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Domingo é dia de irmos à zona… eleitoral.
É chegada a hora de exercer aquela cidadania que a gente enche a boca dizendo que tem, mas tão pouco pratica. Então, antes de digitar o número dos seus candidatos e candidatas na urna eletrônica no próximo domingo, lembre-se do texto abaixo:
Um judeu russo, depois de muito, muito e muito negociar, foi finalmente autorizado a deixar a Rússia e emigrar para Israel, sua terra natal. Detalhe: isso foi antes da guerra com a Ucrânia. Ao embarcar para casa no aeroporto de Moscou, a alfândega russa encontra uma imensa estátua de Lenin cuidadosamente embalada junto às suas bagagens. E eis que, naturalmente, o funcionário questiona:
– O que é isso?
E o homem: “Você perguntou o que é isso?!?!?! Pergunta errada, meu camarada. Você deveria ter perguntado: quem é ele? Mas eu respondo mesmo assim: este é o camarada e revolucionário Lênin. Um ícone. O grande homem que lançou as bases do socialismo e criou o futuro e a prosperidade do povo russo. Estou levando comigo como uma memória de nosso querido herói”.
O funcionário da alfândega fez ‘cara de paisagem’ e o deixou ir sem outros questionamentos. Vôo tranquilo e logo após o pouso no aeroporto de Tel Aviv, o oficial da alfândega israelense faz a mesma pergunta diante da estátua:
– O que é isso?
E ele: “Você perguntou o que é isso?!?!?! Pergunta errada, senhor. Você deveria estar perguntando: quem é ele? Mas eu respondo mesmo assim: este é Lênin, o bastardo comunista hipócrita que fez com que eu, um judeu, deixasse a Rússia profundamente decepcionado. Levo esta estátua comigo para que eu possa amaldiçoá-lo para todo o sempre, durante todos os dias”. O funcionário da alfândega israelense, um tanto quanto constrangido, lhe diz: “Peço-lhe desculpas senhor. Está liberado. Pode ir…”
Instalado em seu novo e espaçoso apartamento de cobertura num bairro nobre de Tel Aviv, de frente para o mar mediterrâneo, ele colocou a enorme estátua sobre uma mesa de centro. Depois de alguns dias, convidou amigos e parentes para um jantar de confraternização. Lá pelas tantas, um de seus convidados vê a estátua e pergunta:
– Quem é este?
E ele responde: “Meu caro amigo, ‘quem é este’ é uma pergunta errada. Você deveria ter perguntado: O que é isso? Mas eu lhe respondo: são vinte quilos de ouro maciço que consegui trazer comigo da Rússia sem pagar um centavo de taxas alfandegárias, excesso de bagagem ou impostos…”.
A política brasileira tem sido assim desde sempre: você pode falar do mesmo assunto, de diversas maneiras, para enganar diferentes públicos. E isso permite que você transite por todos os ambientes como um bom cidadão, sem levantar qualquer suspeita e sem brigar com ninguém. Pense nisso antes de apertar a tecla ‘confirma’ nesse domingo.
Não se deixe enganar por estátuas.
Daniel Andriotti
Publicado em 30/9/22