A Copa é o assunto da semana no mundo. Mas, por incrível que pareça, não é necessariamente sobre futebol que quero falar…
Há doze anos, um pequeno país chamado Catar, sem qualquer tradição no esporte, com uma geografia desprovida de rios e lagos – porém riquíssima em petróleo – venceu por 14 votos a 8 seu principal adversário na disputa para sediar o Mundial de 2022: os Estados Unidos. Mas afinal de contas, o que leva a Fifa a decidir por um ou outro país como anfitrião? Basicamente, três critérios fundamentais: dinheiro, dinheiro e dinheiro. Se o país é racista, corrupto, homofóbico, escravagista… se vê depois. Normalmente a maior instituição do futebol mundial só ‘descobre essas coisas’ na véspera do primeiro jogo da Copa. Tudo ‘em nome do esporte…’
Em 1978 a Argentina foi país-sede da Copa do Mundo em pleno regime militar do General Jorge Videla. Quarenta anos depois veio o mundial da Rússia, um país que dispensa qualquer legenda. Durante essas 10 Copas – de 1978 a 2018 – as polêmicas foram discretas. E agora, com o Catar, voltam as suspeitas de ilegalidade, lobbies, propinas. Tanto que a concessão foi alvo de processos questionáveis envolvendo, é claro, volumes assombrosos de dinheiro para a compra de votos que garantiram o direito de sediar a competição. Mas até aqui, conhecemos a Fifa, nenhuma novidade.
Todos sabiam que a Rússia, país organizador do evento em 2018, nunca teve qualquer representação de governo que respeita os direitos humanos e territoriais. Cogitou-se, na época, a possibilidade de um boicote por parte de algumas nações, o que acabou não se confirmando. No Catar, além dos quase inexistentes direitos trabalhistas, o país muçulmano é conhecido por leis severas, que tornam proibidas, entre outras coisas, a homossexualidade e o consumo de bebidas alcoólicas na maioria dos locais públicos. Tal fato sequer poupou a Budweiser, patrocinador que irriga um dos contratos bilionários da Fifa. Mas tudo isso parece ser inútil quando a voz das cifras fala mais alto. É provável que nos uniformes de algumas seleções, especialmente as europeias, veremos alguma demonstração de protesto. Até porque nenhuma das trinta e duas federações presentes, jogadores ou mesmo alguma ONG defendeu um boicote amplo como ocorreu, por exemplo, durante as Olimpíadas de Inverno em Beijing, na China, no início deste ano.
Onde há milhões de espectadores, haverá bilhões de dólares envolvidos. E com eles, dois pesos e duas medidas. Mas, definitivamente, essa não é uma preocupação da FIFA. O que importa são lucros, sempre altíssimos quando o assunto é futebol internacional. Assim, molda-se a sociedade. Tudo “em nome do esporte”…
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E a debandada de talentos continua: semana passada lamentamos a morte de ícones da MPB como Gal Costa, Bebeto Alves e Rolando Boldrin. Agora foi o ‘Tremendão’, aos 81 anos, eterno parceiro de composições do Rei. A perda dói na alma – muito mais na dos familiares e amigos do que na dos fãs – na mesma proporção que me preocupo com a ausência de uma renovação. Ela até existe e tem sido lenta e gradual na quantidade. Mas na qualidade…
Daniel Andriotti
Publicado em 25/11/22