O resultado da votação para a Presidência da República ratifica a divisão política radical dos brasileiros. Ficou claro, também, que a população da Região Nordeste do País (a única onde o Lula venceu) pensa diferente das demais regiões. Isso não é opinião, está comprovado nos percentuais da votação do dia 30 de outubro.
Ideologias e Personagens
O enfrentamento se deu entre duas ideologias falidas, que podemos simplificar como socialismo e capitalismo. Há definições mais detalhadas, mas no fundo é disso que se trata. Estas correntes foram defendidas e lideradas por dois populistas certificados; um envolvido até a ponta da barba em corrupção, o outro, movido a conflitos.
O populismo gera fanatismo, que significa razão em segundo plano. A corrupção foi jogada para debaixo do tapete sem qualquer constrangimento por parte de uma elite cultural cínica, confrontada por outra elite arrogante. Dois caminhos antagônicos que se encontram no vale da bancarrota.
A Suprema Corte
O Supremo Tribunal Federal foi criado para garantir a aplicação da Constituição. No entanto, segundo destacou o ex-ministro do STF, Marco Aurélio Mello, esta Suprema Corte está extrapolando as suas funções. Em recente entrevista à revista Veja, o ex-ministro, que fez parte deste Colegiado por 31 anos, classificou as ações atuais do Judiciário (STF e TSE) como “trepidantes”. Isso é o mais grave neste âmbito confuso, que precisa de atenção e debate visceral da sociedade.
Quando a Justiça não é clara, abre-se espaço para buscá-la por meio da força, o pior dos mundos.
Recomendo a leitura do Editorial desta edição.
Lula e Bolsonaro
Lula, que venceu a eleição para presidente do Brasil com uma margem muito pequena de votos, já governou o País por dois mandatos. No primeiro, se destacou pela inclusão social; no segundo, as medidas sem sustentabilidade começaram a esfarelar. Nos mandatos de Dilma Rousseff, sua sucessora e discípula, veio o fracasso retumbante e o impeachment. Para o povo sofrido, ficou apenas a lembrança do primeiro governo; o restante foi apagado da memória.
Lula foi condenado por crime de lavagem de dinheiro, com confirmação em três instâncias. Provas foram apresentadas, envolvidos confessaram a participação no crime, devolvendo bilhões de reais; prisões aconteceram.
Depois de cinco anos da prisão de Lula, o STF decidiu anular condenações por entender que julgamentos aconteceram em endereço errado. Uma ação inusitada, que colocou o ex-presidente no páreo como um santo legal.
Bolsonaro enfrentou os adversários de forma agressiva, caçando conflitos diários e se esbaldando nos ataques verbais. Governou em meio a uma pandemia cruel, negando sua gravidade no início, o que o fragilizou no final. Desmamou do Governo um combo de ONGs, sindicatos, artistas enviesados e grandes empresas de comunicação acostumadas a ditar normas sem contestação. Isso gerou uma severa guerra de narrativas.
Os acertos da governança foram abafados pela mídia tradicional, arrostada pelo Governo, que se tornou vulnerável diante da coleção de sandices orais do presidente.
A Revolta
Com a vitória do Lula, apoiadores de Bolsonaro se revoltaram, considerando o passado lavado do adversário. Muitas estradas foram bloqueadas em protestos espalhados pelo País.
Somente dois dias depois da votação, o Presidente Bolsonaro se manifestou publicamente, afirmando que sempre jogou dentro das quatro linhas; definiu as manifestações como consequência do descontentamento pelo que chamou de tratamento desigual do TSE no processo eleitoral, pediu para os manifestantes não agirem como a esquerda, e não reconheceu a derrota. Esta fala curta e grossa causou frisson em redações, no Leblon, na Vila Madalena e prolongou o tumulto nas ruas.
Jogo Jogado
A eleição para a Presidência da República foi dramática, acirrou a divisão da sociedade brasileira, considerando o relato acima, mas o jogo foi jogado. Se não aparecerem provas de que houve fraude durante a partida, é preciso aceitar o resultado, pois a hora de contestar a escalação dos times passou. Além disso, não se pode aceitar bloqueios de estradas, considerando o grave prejuízo imposto a toda a população.
Vencedores e derrotados precisam acalmar os ânimos e atuarem pela harmonia, buscando o mínimo de união no País.
Em que pese o consolidado balcão de negócios no Congresso Nacional, acredito que a nova composição do Legislativo deverá limitar as ações do futuro Governo. Na verdade, quem manda no País é o Congresso. E tudo indica que haverá fiscalização franca no “trepidante” STF por parte do Senado.
Que o Brasil siga buscando prosperidade, com sustentabilidade, numa direção contrária a seguida pela Argentina, Venezuela, Nicarágua, pelo México e Cuba.
No Rio Grande do Sul
Aqui no Estado, fiquei com a impressão de que o Onyx Lorenzoni fez campanha para perder no segundo turno. Apresentou-se como um candidato oco. Nos debates, revelou despreparo para governar; no promovido pela RBS, na véspera da eleição, foi patético.
Além de se apresentar como um adolescente apaixonado, praticamente escondeu a candidata a vice, Cláudia Jardim, que foi relegada à figura decorativa na campanha. O escanteio foi tanto, que as bandeirolas do candidato Onyx foram retiradas dos canteiros, por decisão judicial, devido ao tamanho da letra no nome da vice.
Bolsonaro fez 13% a mais de votos do que o Lula no RS e Onyx fez 13% a menos de votos do que Bolsonaro no Estado. Um “treze” revelador.
Na Aldeia
No segundo turno, Bolsonaro venceu o Lula em Guaíba, revertendo o resultado do primeiro por pequena margem. Onyx, que venceu bem em Guaíba no primeiro turno, levou uma tunda do Leite no segundo.
Leandro André
leandro.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 04/11/22