Entrei naquela enorme loja de departamentos, como tenho feito há décadas, desde que me conheço por gente, sabe-se lá quantas e quantas vezes. Já virou tradição familiar, aprendi com minha mãe e segui à risca; naturalmente, passei para a filha, e a neta parece que está firme e forte nessa preferência comercial.
Verdade seja dita, faço questão de fazer compras na minha cidade, mas preciso buscar algumas coisas em Porto Alegre por não encontrá-las por aqui. Nem mesmo na filial da referida loja, que abriu suas portas no Centro de Guaíba, certamente por ser menor que suas grandiosas instalações da Capital.
Pois bem, naquela que era uma das tardes que encerravam o inverno deste ano, me dirigi a uma das lojas Renner para comprar o pó facial de costume e o rímel com o qual gosto de destacar meus cílios, ambos da marca que não temos neste nosso Berço da Revolução Farroupilha.
Vacinada, máscara no rosto, álcool em gel na bolsa, fui direto ao setor de cosméticos. Imediatamente, notei o número reduzido de funcionários, compreensível pelo pouco movimento, mas preocupante. Consequência da pandemia, a mesma que nos esconde sorrisos há quase dois anos.
Uma jovem veio me atender, prestativa, mesmo que um pouco perdida em suas tarefas, acredito que por ser nova não apenas na aparência, mas também naqueles afazeres de vendas. Pedi os produtos. Ao perceber que ela estava um pouco atrapalhada para encontrá-los, puxei o nécessaire da bolsa, abri e mostrei a ela os meus, que estavam quase no fim; eram iguais aos que eu queria comprar. Demorou um pouco, mas tive os pedidos atendidos. Fui para o caixa específico do setor.
Ora, ora, fui avisada de que a pessoa do caixa tinha saído. Então, um jovem foi chamado, apareceu e me disse que aquele caixa estava com problemas. E perguntou se eu sabia que não havia mais necessidade de alguém me atender, eu poderia fazer tudo sozinha, pelo meu celular. Eu respondi que preferia que um funcionário fizesse o trabalho, até porque gostaria que todos se mantivessem nos seus empregos.
– Se a senhora quiser, basta me alcançar seu celular que eu mesmo faço, me disse ele. Ao que eu respondi com uma negativa seguida de agradecimento, explicando que meu celular é um objeto pessoal e não costumo entregá-lo para outras pessoas manusearem.
– Então, teremos que ir até a central de caixas e usar o autoatendimento. Vou lhe mostrar as facilidades do mundo moderno, concluiu o iludido menino. Fiz de conta que acreditei que tudo funcionaria.
Seguimos para o tal autoatendimento de dois terminais. Adivinhem, um não funcionava. O outro estava ocupado por uma jovem senhora, que segurava conjunto de roupa íntima recém-registrado por ela, mas a nota não saíra. Ela aproveitou a nossa chegada para se queixar ao funcionário, cabide com calcinhas e sutiãs sobre o teclado, perguntando-lhe onde conseguiria uma sacola para colocar suas compras.
O atendente me olhou, encabulado, e disse que realmente o mundo moderno nem sempre funcionava. Desculpando-se pelo que me anunciara, minutos antes, com tanta certeza. Diga-se de passagem, o erro mais comum entre os de pouca experiência de vida.
Tivemos, então, que nos dirigir aos caixas convencionais para fazer o que era de costume naquele meu mundo de antes. No tempo em que o contato com as pessoas, a manutenção de seus postos de trabalho e o bem estar geral faziam parte das nossas preocupações. Quando a gente sabia como era importante aprender com os mais velhos.
Cristina André
cristina.andre.gazeta@gmail.com
Publicado em 24/9/21