Nestes dias de retorno às atividades escolares, lembro-me de um estudante e a pergunta que fez no primeiro dia de aula para esta professora de Matemática. Depois de eu ter me apresentado para a turma e falado um pouco sobre o conteúdo que estudaríamos naquele ano, o aluno lançou uma questão recorrente, seguida de comentário:
“Para que serve estudar tantas regras e fórmulas matemáticas se, no final das contas, são inúteis para o meu dia a dia? O necessário, na prática, são as quatro operações e um pouco de porcentagem”.
Do alto dos seus dezesseis anos, idade em que muita gente acredita já saber o suficiente sobre tudo, ele me questionou, também, a respeito das razões pelas quais eu era exigente com a disciplina e não me dispusera a colocar os conteúdos em discussão com a turma, para que pudessem escolher o que queriam aprender.
Dúvidas juvenis postas, elogiei o interesse pelos assuntos educacionais, o que demonstrava senso de cidadania.
Expliquei, então, que existe uma realidade com a qual todos nós convivemos, contudo é impossível vê-la a olho nu. Além disso, precisamos exercitar o cérebro, colocar os neurônios na academia, porque é de vital importância conhecermos o mundo em que vivemos, saber do que são feitas as coisas, de onde viemos, compreender medidas, o próprio corpo e o universo. E o trabalho da Matemática, que prima pelo raciocínio lógico, é fundamental para captarmos todo tipo de conhecimento, do funcionamento do telefone celular e dos computadores, das engenharias e da interpretação de textos, dos mapas e da música.
Sobre a disciplina exigida para aprender, respondi o que sempre me pareceu evidente: prestar atenção é primordial para entendermos qualquer assunto.
Quanto à escolha dos conteúdos a serem aprendidos, de acordo com o gosto pessoal de cada um, disse ao jovem estudante que, antes dos debates e das ideias de mudança, é preciso se apropriar do que já existe em matéria de conhecimento, porque ninguém pode tecer comentários sobre o que não conhece. Assim sendo, disciplina e respeito ao conhecimento são condições imprescindíveis para que alguém realmente aprenda.
Ele me ouviu com atenção e concordou, balançando positivamente a cabeça. Agradeci pela oportunidade de renovar minha fala de primeiro dia e segui em frente com aquela aula, repetindo bons professores que tive, os mesmos que me ensinaram disciplina e respeito ao conhecimento. E que a escola precisa ser o lugar de tudo isso.
Cristina André
Publicado em 14/2/25