Direito e Dever de Ter Esperança

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Na imagem que está publicada na Coluna Gente desta edição, da bonita Festa Junina realizada pelos moradores do Loteamento do Engenho que foram atingidos pela recente tragédia que nos abalou, está implícita uma extraordinária mensagem: todos nós temos o direito e o dever de ter esperança.

Redundância mais do que perfeita, o termo “divisor de águas”, muito utilizado em conversas informais, refere-se a “situação, evento ou fato que representa uma mudança importante no rumo dos acontecimentos, sejam eles históricos, sociais ou pessoais”. Assim foi a enchente de maio para os gaúchos, em especial para guaibenses e eldoradenses: um divisor de águas.

Depois das cheias, o medo e a insegurança inundaram nossos pensamentos, desestabilizando o sossego local que acreditávamos fosse uma garantia vitalícia. Eis que águas de outras terras, de repente, abriram caminho na nossa direção, deixando marcas de uma tragédia que abalou a todos. Invadindo casas, levando tudo adiante, dando sumiço aos passeios e às viagens de trabalho, às atividades escolares e aos restaurantes, às conversas casuais e aos abraços amigáveis.

Mas temos o direito e o dever de ter esperança.

Em noticiários mundo afora, nossa gente gaúcha se abrigando em locais públicos e nas casas de pessoas amigas. Tristeza abalroando corações, mesmo de quem conseguiu proteção em sua morada, pensando em tudo que todos têm passado e no tanto que ainda teremos que enfrentar juntos diante dessa fragilidade emocional que não se conhecia. Porém, temos o direito e o dever de ter esperança.

É questão de tempo, imaginamos que seja assim. Solidariedade e empatia alcançando a boa vizinhança, amigos se reencontrando para festejar o São João, fogueira acesa em cada coração nosso, ainda que uma insistente melancolia siga abalando nossas emoções. Ter esperança é nosso direito e nosso dever.

Na reconstrução dos lares atingidos, a fé desafiada se mostra mensageira de uma coragem que parecia ter sido levada pelas águas. E na beleza de ver abraços de amigos e vizinhos que se reencontram com outras famílias, nas conversas presenciais, os melhores exemplos de atitude e resiliência a iluminar olhares infantis.

E mesmo depois de tudo, gratidão e orações resgatados pela manutenção da vida, pela compreensão de que a existência é feita de recomeços.

É nosso direito e nosso dever manter a esperança.

Cristina André

Publicado em 5/7/24

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